Autor: José Luís Peixoto
Título: Regresso a Casa
N.º de páginas: 110
Editora: Quetzal
Edição: Agosto 2020
Classificação: Poesia
N.º de Registo: (3255)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐
José Luís Peixoto (JLP) abre este livro de poesia com um belíssimo apelo. “Repara na manhã que nos rodeia”, repara na vida, nas palavras, na poesia. É um Regresso a Casa, às “suas casas”, lugares de afecto, às suas memórias, aos seus livros, às suas viagens.
Este regresso à poesia, em tempos de confinamento, é um mergulho emotivo e sincero na realidade e na sua intimidade, mas também uma fuga ao isolamento (quase claustrofóbico), ao receio de um futuro incerto.
JLP encontra no poema e nas palavras uma janela propícia à reflexão, às lembranças, à saudade, mas também à confirmação de uma identidade. A sua.
“O poema é como uma casa, tem paredes
e janelas, é habitado pelo presente.”
JLP transforma a escrita, a poesia em terapia, como uma protecção e um escape à realidade. Para quem viaja regularmente, torna-se necessariamente difícil ficar “preso” em casa. Nos seus poemas captamos os afectos pelas pessoas, pelos lugares; as emoções; o amor; os instantes que preenchem “quarenta e cinco anos”.
Hoje, ao lê-lo, e ao partilhar o seu diálogo introspectivo, revejo-me na “minha casa” fechada entre quatro paredes, nas aulas aos quadradinhos, de volta dos livros e focada nas múltiplas partilhas de solidariedade que, espontaneamente, surgiam na internet; assaltam-me certas memórias que também recuperei e rememoro as dúvidas e os receios, então, vividos diariamente. Porém, a leitura deste livro proporciona-me, sobretudo, um melhor conhecimento de JLP, quer através da dimensão intimista que nos lega em diversos poemas, quer através da revisitação de algumas das suas obras publicadas até então. Como exemplo, o poema intitulado “Morreste-me” é enternecedor. Não ficamos indiferentes às palavras sentidas e sensíveis, tal como não ficámos aquando da leitura do livro homónimo.
Recomendo muito este Regresso a Casa. Lê-se lindamente e “carrega ecos” de um tempo e de um autor que muito aprecio. E termino como iniciei. “Repara” na vida, na poesia! Lê poesia! Lê JLP.
“(…)
Estamos vivos, repara. Um livro
de poesia, como uma trégua secreta,
uma janela, como os teus olhos
a verem-me em silêncio, ou os meus
olhos a verem-te. Um livro de poesia, como um regresso a casa.”
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