28 março, 2025

𝑴𝒂𝒏𝒅í𝒃𝒖𝒍𝒂, de Mónica Ojeda

 



Autora: Mónica Ojeda
Título: Mandíbula
Tradutor: Rui Elias
N.º de páginas:298
Editora: D. Quixote
Edição: Março 2024
Classificação: Romance Thriller
N.º de Registo: (3631)



OPINIÃO ⭐⭐⭐


Conheci Mónica Ojeda no F(o)lio, em Óbidos. Gostei muito de a ouvir e como não conhecia a sua obra, decidi comprar um livro e optei por Mandíbula.
Reconheço que o enredo é intenso e perturbador, escrito numa linguagem crua, envolvente e fascinante, porém, o ambiente de paranoia e de horror presente não é de todo do meu agrado.

O livro explora temas interessantes como a relação entre professoras e alunas, relações familiares, sexualidade e violência. A narrativa foca-se num grupo de adolescentes de classe social alta, numa escola para raparigas e começa com o sequestro de uma aluna, Fernanda, pela professora de literatura, Miss Clara, e, ao longo dos capítulos, mergulhamos nas memórias e nos passados complexos e assombrados das personagens. Estamos perante um grupo de mulheres feroz e implacável.

Mónica Ojeda, neste livro, explora o lado mais sombrio das relações humanas. E fá-lo de forma exímia.
Ojeda alterna tempos, vozes e pontos de vista para explorar o impacto dessas relações em várias camadas permitindo ao leitor entrar na mente das personagens e vivenciar os seus traumas e conflitos internos. Ela constrói uma trama fragmentada e imersiva que espelha o modo como a memória e o trauma funcionam nas personagens. O recurso a elementos de terror psicológico, de suspense e de desconforto intensifica a tensão existente e os medos implícitos. A referenciação de obras literárias, mitologias e teorias psicanalíticas atribui maior profundidade à análise das tensões. E, finalmente, a combinação de descrições de acções reais, do quotidiano com imagens aterradoras, causa desconforto, angústia e medo.

Assim, Mandíbula mostra-nos o lado mais perverso do ser humano. A monstruosidade entre adolescentes, a disfunção relacional entre colegas que exploram os seus corpos com jogos e desafios perigosos e inusitados.

“«Não finjam que não sabem que gostam disto», disse Annelise uma tarde em que se assustou muito porque Fernanda desmaiou durante o jogo do estrangulamento. «Só faz sentido se for perigoso».” (p.97)

Mónica Ojeda conduz a sua narrativa para zonas sombrias da mente humana. À instabilidade psicológica das principais personagens alia a simbologia do medo, construindo uma atmosfera de horror encantatória. Para mim, foi uma leitura difícil, não gosto da temática do horror, mas fiquei presa pela escrita e pela curiosidade em perceber a causa da perturbação obsessiva da professora e ainda bem que fui até ao fim porque considero sublime o ensaio que a aluna Annelise escreveu à professora Clara Valverde. São cerca de trinta páginas que respondem a um “exercício” solicitado pela professora e que consistia em comentar um dos contos de Edgar Allan Poe, analisado na aula.


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