14 julho, 2024

𝑻𝒆𝒓𝒓𝒂 𝑨𝒎𝒆𝒓𝒊𝒄𝒂𝒏𝒂, de Jeanine Cummins

 


Autora: Jeanine Cummins
Título: Terra Americana
Tradutora: Tânia Ganho
N.º de páginas: 445
Editora: Asa
Edição (3.ª): Agosto 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3385)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Terra Americana entranha-se-nos nos poros, impede-nos de respirar, mergulha-nos na crueldade, na violência, na morte. Livro fabuloso, muitíssimo bem escrito que agarra o leitor logo na primeira página. Baseado numa realidade ainda actual, faz-nos reflectir sobre as condições de sobrevivência dos milhares de migrantes que lutam por encontrar noutro país uma vida mais segura.

Esta narrativa centra-se na fuga desesperada e muito sofrida de uma mãe (Lídia) e seu filho (Luca). Fogem pela vida, pela sobrevivência depois de verem chacinada a sua família mais próxima às mãos de narcotraficantes, em Acapulco. Ela sabe que “a sua sobrevivência é uma questão de instinto e não de vontade.” (p. 320) Ela desconhece tudo. Os riscos, as dificuldades, o horror a que se vão submeter.

Sem alternativa, sabendo apenas que tudo fará para salvar o seu filho, Lídia foge do luto que se impõe e que mais tarde ou mais cedo terá de fazer, para se concentrar no terror, no medo de não conseguir sobreviver e chegar à fronteira do deserto de Sonora. É através destes dois sobreviventes, imigrantes forçados, que vamos enfrentar uma viagem louca, desenfreada, violenta envolta de um medo inavaliável, mas também de uma coragem insuspeitada à partida e descobrir o sofrimento e o desespero de todos os que, como eles, tentam escapar à denúncia, à deportação, à morte.

A escrita de Cummins é magistral, perturbadora e envolvente. Após uma longa pesquisa e recorrendo a informação verídica sobre a problemática da imigração, construiu uma narrativa forte que evolui num crescendo de horror, pontuada por momentos de extrema violência, sobretudo para as mulheres jovens, e de riscos iniludíveis quer no acesso ao comboio “a besta” quer na travessia do deserto. Contudo e, apesar, de tanta crueldade e violência há momentos bonitos, ternurentos, de solidariedade, de união e, por que não, de esperança.

Recomendo muito a sua leitura, por três razões. A primeira porque é um livro controverso na medida em que suscita diversas opiniões sobre a problemática, ainda actual e premente, da imigração quer em território americano quer em território europeu; a segunda, porque é um livro que nos habita, que deixa marcas e a terceira porque é um livro sobre mulheres, mulheres corajosas, mulheres sobreviventes.
Para finalizar, gostaria de referir que Luca, com oito anos, é uma criança extraordinária que se agarra à vida e que leva com ele a sua mãe e as outras personagens que se uniram a ele.


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