20 julho, 2024

𝑨𝒈𝒏𝒆𝒔 𝑮𝒓𝒆𝒚, de Anne Brontë

 


Autora: AnneBrontë
Título: Agnes Grey
Tradutora: Manuela Porto
N.º de páginas: 206
Editora: Relógio d'Água
Edição: Julho 2019
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3519)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Agnes Grey escrito em 1847 com pseudónimo masculino, Acton Bell, foi a primeira obra de Anne Brontë. Trata-se de um romance de formação com laivos autobiográficos que narra o percurso de uma jovem preceptora, Agnes Grey. A autora, pelo viés da literatura, lega-nos um testemunho importante sobre a sociedade inglesa da era vitoriana.

Agnes é uma jovem lutadora, destemida e forte que aprende a viver com os seus conflitos interiores e que tudo faz para superar os seus sonhos, os seus desejos. Ela rompe barreiras familiares e sociais quando decide sair de casa para trabalhar como preceptora, a fim de apoiar financeiramente a família.
“Devia ser muito bom ser-se precetora! Ver mundo, começar uma vida nova, ter iniciativa, utilizar as minhas próprias faculdades, até então inaproveitadas, experimentar as minhas capacidades, que eu própria desconhecia, ganhar o meu sustento e poder ajudar e confortar o meu pai, a minha mãe e a minha irmã …” (p. 15)

É no relato das suas experiências laborais em casa de famílias aristocráticas e ricas que se percepciona a crítica à forma como as crianças são instruídas e educadas pelos pais. Para Agnes, sem experiência e muito jovem, torna-se uma tarefa árdua, pois as crianças, rebeldes e egoístas, não lhe obedecem e tratam-na como subalterna. Em momento algum, ela pode contrariar as crianças extremamente mimadas, pelo que a sua primeira experiência torna-se, assim, num fracasso.
“ A minha tarefa, à medida que os dias passavam, em vez de se tornar mais fácil, pelo contrário, complicava-se, pois os caráteres iam-se evidenciando. Bem cedo percebi que a designação de precetora, dada à minha pessoa, era mais do que ironia. Os pequenos não tinham a menor noção do que fosse obediência. Eram como leõezinhos indomáveis. (…)” (p. 30)

Mas não desiste e ingressa noutra família decidida a vencer e a incutir nos seus pupilos algum conhecimento e boas regras de conduta. Nem sempre é fácil. A sua autoridade, se é que alguma vez a conseguiu impor, é constantemente desafiada. Porém, e apesar da vida difícil que mantém longe da família e sujeita aos reveses impostos pelas crianças e jovens que tem sob a sua responsabilidade, acaba por conhecer pessoas boas e, no final, todo o seu esforço é compensado. Convido-vos a descobri-lo.

Não sendo um romance extraordinário, lê-se com enorme prazer e adorei acompanhar o crescimento de Agnès. A sua integridade e tenacidade levam-na a ultrapassar as dificuldades sentidas em meios familiares desconhecidos que protagonizam valores e comportamentos diferentes dos seus.

Escrito na primeira pessoa, a autora, no papel de protagonista, transmite ao leitor as suas vivências e a visão da sociedade em relação à mulher emancipada que opta por trabalhar, por ser independente. Neste sentido, e tendo em conta a época, poder-se-á afirmar que este primeiro livro de Anne Brontë revela já um certo pendor feminista. O facto de recear a crítica que certamente não publicaria este livro escrito por uma mulher, fê-la assinar com nome masculino.




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