08 fevereiro, 2023

𝑶 𝑪𝒐𝒍𝒊𝒃𝒓𝒊, de Sandro Veronesi

 


Autor: Sandro Veronesi
Título: O Colibri
Tradutores: Cristina Rodriguez e Artur Guerra
N.º de páginas: 326
Editora: Quetzal
Edição: Março 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3377)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


O Colibri, de Sandro Veronesi é um livro maravilhoso, surpreendente e superlativamente cativante. Trata-se de uma saga familiar marcada pelo amor e amizade, pela perda e dor, pela fragilidade humana, pelo sonho, esperança e realização.

O título, “O colibri” remete para a alcunha atribuída ao protagonista na infância pela mãe, devido à sua pequena estatura, mas ao longo da leitura, percebemos que há outro sentido, mais metafórico, associado à capacidade da ave pairar no ar e que no protagonista se revela ao longo da sua vida numa luta constante pela superação da perda e da dor.
É Luísa, numa carta que escreve ao protagonista, que nos confirma o, já intuído, duplo sentido de “O colibri”:

“E compreendi de repente (…) que tu és realmente um colibri. Pois claro. Foi uma iluminação: tu és realmente um colibri. Mas não pelas razões pelas quais te foi dada essa alcunha: tu és um colibri porque, como o colibri, pões toda a tua energia em te manteres parado. (…) tal como o colibri é capaz de voar para trás. Por isso é tão agradável estar ao teu lado.” (p. 261)

Marco Carrera, “oculista e especialista em oftalmologista”, ao viver uma série de dramas vai aprender a pairar, a parar, a voltar atrás para se manter à tona da vida. Muitas vezes pensa em desistir, mas resiste e luta à sua maneira.

Estamos perante um romance fragmentado que flui ao sabor das recordações e das memórias, mas também de prolepses que predizem o futuro. Sem ordem cronológica vamos percorrendo a sua infância e juventude, conhecendo a família, a paternidade, os amigos, a grande paixão da sua vida, os desencontros, as perdas familiares irreparáveis, os sucessos, isto é, a vida.
Para dar sentido à fragmentação da narrativa, Veronesi entremeou os seus capítulos com cartas, muitas cartas, conversas telefónicas, emails, documentos, citações, o que lhe atribui um carácter polifónico e é ao leitor que cabe a reconstituição da trama que acompanha Marco Carrera, bem como descortinar a complexidade das relações humanas.

Termino como iniciei, reafirmando que se trata de um livro sublime que revela uma escrita sensível, elegante, emotiva e um ritmo delicado e fascinante, tal como o colibri, ou beija-flor, que voa natural, livre e airosamente. Recomendo.


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