18 fevereiro, 2023

𝑶 𝑨𝒏𝒐 𝒅𝒐 𝑷𝒆𝒏𝒔𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝑴á𝒈𝒊𝒄𝒐, de Joan Didion

 


Autora: Joan Didion
Título: O Ano do Pensamento Mágico
Tradutor: Hugo Gonçalves
N.º de páginas: 176
Editora: Cultura
Edição: Dezembro 2017
Classificação: Não-ficção
N.º de Registo: (3362)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Neste livro de memórias e sobretudo de factos vividos no presente, Joan Didion narra o período que se seguiu à morte do seu marido, John Dunne, e a longa doença da sua filha Quintana, nos cuidados intensivos.
É um relato, na primeira pessoa, intenso e sincero sobre a morte, a dor da perda, o vazio que se instala, a necessidade de conviver com o que fica para além do amor vivido a dois, da superação.

As frases iniciais com que Joan Didion inicia a viagem mais dolorosa e ameaçadora da sua vida marcam a densidade da narrativa:
"A vida muda rapidamente.
A vida muda num instante.
Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina.
(…)
A vida muda num instante.
Um instante normal".

Sem autocomiseração, num estilo assertivo, emocionante e perturbador, Joan Didion descreve ao sabor da pluma e da sua consciência a morte do marido, a doença grave da filha, os dias que passou nos hospitais e as recordações de cerca de 40 anos de casamento. Mas é o relato da sua experiência pessoal perante a morte, perante a perda, perante o vazio e a necessidade de superação, de resolução, de luta contra o tempo que desarma o leitor.

“Durante várias semanas, era assim que eu despertava para o dia.
Despertei e senti o sentimento da escuridão, não do dia.
(…)
Precisava de estar sozinha para que ele regressasse.
Este foi o princípio do meu ano do pensamento mágico.” (pp. 28 e 29)

Numa escrita ora ensaística com recurso a estudos, a pesquisas, ora confessional, precisa e brutal, ora literária com citações de poemas e de obras, Didion esmaga-nos com a limpidez e sinceridade das suas palavras, com a sua fragilidade, força e lucidez que lhe conferem uma extraordinária capacidade de escrutinar o seu interior e de se expor sem pudor.

Joan Didion lega-nos um testemunho incontornável em que “ A dor da perda acaba por ser um lugar que nenhum de nós conhece até o alcançarmos. Antecipamos (sabemos) que alguém que nos é próximo pode morrer (…) Mas não esperamos que esse choque seja eliminador, que desloque o corpo e amente.” (p. 145)


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