12 fevereiro, 2021

𝑶𝒔 𝑨𝒏𝒐𝒔, de Annie Ernaux

 


Autor: Annie Ernaux
Título: Os Anos
N.º de páginas: 196
Editora: Livros do Brasil /Porto Editora
Edição: 1.ª edição - Fevereiro 2020
Classificação: Autobiografia
N.º de Registo: 3265


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

Os Anos. Os Anos, de Annie Ernaux são um autêntico mergulho no tempo e nas múltiplas gavetas da sua memória. Refiro "gavetas" com intenção porque tratando-se de um texto contínuo (sem capítulos), porém fragmentado como se a autora abrisse uma gaveta e dela retirasse uma fotografia, um filme, uma música, parece-me que a palavra espelha bem a estrutura e o conteúdo do livro.
Esta narrativa clara, objetiva e sem preconceitos desliza “num imperfeito contínuo, devorando o presente progressivamente até à última imagem de uma vida.” (p.194) Ao ritmo dessas memórias visuais, mentais e sentimentais, a autora relata a sua vida pessoal, familiar, profissional e social estabelecendo relações com a evolução de uma sociedade, a francesa em particular, desde 1941 até 2006. Partindo de uma retrospectiva imagética “Numa fotografia a preto e branco” (p.43), quase cronológica, como se de uma "Existência de papel" (título de um livro de Al Berto) se tratasse, a autora rememora o "eu/ela" inserido na história de um país, e de certa forma do mundo.
É este entrelaçamento entre o “eu” da enunciação, o “ela” da escrita e o “alguém” ou “nós” (p.194) de uma sociedade que tornam este livro fascinante.
“Gostaria de reunir múltiplas imagens dela própria, separadas, sem relação entre si, ligadas por um fio narrativo, o da sua existência, (…) como representar simultaneamente a passagem do tempo histórico, a transformação das coisas, das ideias, dos hábitos e o carácter íntimo dessa mulher. (…) A sua principal atenção incide na escolha entre “eu” e “ela”. Existe demasiada continuidade no “eu”, algo de limitado e sufocante, e no “ela” demasiada exterioridade e distanciamento.” (p.144)

Estamos perante um extraordinário manancial de referências sociais, políticas e culturais que marcaram toda uma geração.
Para mim, que vivi a minha adolescência neste ambiente (ou pelo menos uma parte), a leitura deste livro está a causar-me sensações contraditórias porque me traz à memória momentos muito bons e outros menos bons. Mas que é redentor, é! A anos de distância, sinto a melancolia, a adrenalina e a desilusão vividas na época e que a autora tão bem retrata.


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