04 fevereiro, 2021

𝘼 𝙄𝙣𝙫𝙚𝙣çã𝙤 𝙙𝙚 𝙈𝙤𝙧𝙚𝙡, de Adolfo Bioy Casares


Autor: Adolfo Bioy Casares
Título: A Invenção de Morel
N.º de páginas: 152
Editora: Antígona
Edição: 3.ª edição - Março 2020
Classificação: Romance/Diário
N.º de Registo: 3223


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

Se Jorge Luís Borges, no prefácio, refere “não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole classificá-lo como perfeito,” que poderei eu, simples leitora, acrescentar? Nada! Está absolutamente perfeito!

Estamos perante uma narrativa, em forma de diário, de um foragido da lei que se refugiou numa ilha deserta. “ Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre. (…) Escrevo estas linhas para deixar testemunho do milagre adverso.” (p.15). O leitor é, desde logo, informado das razões deste diário.
A ilha, considerada amaldiçoada e inóspita tem, no entanto, três construções (um museu, uma capela e uma piscina). Aquando da sua expedição ao interior dos edifícios, descobre uma máquina, que saberá mais tarde, que foi inventada por Morel. Uma das várias personagens que aparecem na ilha.
“Estou na posse de um dado que pode servir aos leitores deste relato para conhecerem a data da segunda aparição dos intrusos…” (p.75)

O relato é vincadamente marcado pela luta de sobrevivência e pelo medo de ser descoberto por estes intrusos. Ele observa-os à distância, ouve as suas conversas e apaixona-se por uma das mulheres, Faustine.
“ A mulher do lenço tornou-se-me agora imprescindível. Talvez toda a minha higiene de nada esperar seja um pouco ridícula. Nada esperar da vida, para nada arriscar; dar-me por morto para não morrer. (…) Voltei duas tardes mais: a mulher lá estava; comecei a achar que esse era o único milagre…” (pp. 37 e 38)
Mas será esta uma realidade? É que para sobreviver à fome, o nosso fugitivo ingere plantas e raízes que provocam delírios, alucinações, pesadelos.

É nesta multiplicação de imagens que a escrita de Casares se torna mágica, ou citando Borges, perfeita. A realidade e a fantasia misturam-se, o presente e o futuro são constantemente indagados e este questionamento e consequente reflexão levam-nos, a nós leitores, a pensar sobre a fragilidade da vida e as fronteiras do real.

Narrativa muito actual, já que a explicação do funcionamento da invenção de Morel, bem como o desfecho da narrativa, nos remetem, inequivocamente par o mundo em que vivemos numa mescla de real e virtual.



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