13 fevereiro, 2021

𝑨 𝑪𝒉𝒂𝒓𝒏𝒆𝒄𝒂 𝒂𝒐 𝑬𝒏𝒕𝒂𝒓𝒅𝒆𝒄𝒆𝒓, de Florbela Espanca

 



Autor: Florbela Espanca 
Título: A Charneca ao Entardecer (contos escolhidos)
Selecção, organização e introdução: Jose Luís Peixoto
N.º de páginas: 88
Editora: Edições Quasi
Edição: 3.ª edição - Fevereiro 2007
Classificação: Contos
N.º de Registo: 2978


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐

É a primeira incursão que faço na prosa ficcional de Florbela Espanca. A Charneca ao Entardecer é uma pequena antologia de sete contos selecionados e organizados por José Luís Peixoto que nos diz na sua introdução que “os contos foram escolhidos de acordo com o meu gosto”.
Assim, parti desde logo do princípio de que também eu iria gostar. Não fiquei nada desiludida, mas, mesmo assim, confesso que prefiro a sua poesia.

A sua charneca alentejana está muito presente nos primeiros contos. Nestes, aprecio a sua escrita sensorial muito poética sobretudo quando descreve a paisagem.
“Em volta, o silêncio era tão profundo, tão religiosa e extática a paz dos campos, que os olhos do lavrador incrédulo se ergueram da terra numa instintiva acção de graças. (…) É que os sombrios olhos alentejanos precisam encher-se de infinito, precisam das amplas extensões onde o ar corre liberto, e o Sol, pelas tardinhas solitárias, adormece cansado, imperador aborrecido do seu trágico gozo de incendiar.” (pp.29 e 30).

É lindo! Só quem vive no Alentejo pode sentir e entender estas palavras, estas imagens, este enlevo, esta sensação de plenitude.

A outra temática abordada é a morte. Temos alguns contos dedicados ao seu irmão que perdeu a vida de forma prematura. Esta perda absurda vai deixar marcas físicas e psicológicas na autora. Em “Dedicatória”, o conto é dirigido ao seu “querido irmão Morto”, estamos então perante uma escrita intensa e profunda, carregada de melancolia, de sofrimento e de culpa.
“Aquele que traz no rosto as linhas do teu rosto, nos olhos a água clara dos teus olhos, o teu Amigo, o teu Irmão, será em breve apenas uma sombra na tua sombra, uma onda a mais no meio doutras ondas, menos que um punhado de cinzas no côncavo das tua mãos?!...” (p.47)

Gostei bastante desta selecção, mas preciso de ler mais contos para validar a minha opinião sobre a vertente contista da autora.

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