Autora: Joana Bértholo
Título: Augusta B.
N.º de páginas: 99
Editora: Caminho
Edição: Maio 2024
Classificação: Novela
N.º de Registo: (3587)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐
Augusta B. ou as Jovens Instruídas 80 anos Depois, desvenda as peripécias de duas jovens de 22 anos que tentam publicar um anúncio igual ao de Agustina Bessa-Luís (ABL).
A novela de cerca de 100 páginas transporta-nos para dois universos bem distintos ou talvez não: o universo das aplicações de encontros, das redes sociais e o universo dos anúncios de jornais.
Joana Bértholo de forma inteligente e criativa explora o famoso anúncio publicado no primeiro de Janeiro, há 80 anos, por Agustina Bessa-Luís, uma jovem instruída, à procura de correspondência “inteligente e culta”.
Tendo, assim, Agustina e o anúncio como fio condutor, a autora cria uma novela que estabelece a ponte com a actualidade ao envolver as duas amigas, Raquel e Augusta, paralelamente, em encontros por via das aplicações e na replicação do famoso anúncio no jornal O Público. Todo o enredo gira à volta das tramas amorosas, das reflexões e interpelações das duas jovens e da narrativa sobre as dificuldades que enfrentam em publicar o anúncio “dado que o conteúdo não se enquadra com a linha editorial do jornal.”
O anúncio acabou por ser publicado, no entanto, não vou revelar de que forma para que não anule o prazer da descoberta. Posso afirmar que o paralelismo estabelecido entre o antes (1944) e o presente está muito bem conseguido. O que hoje é banal, era inconcebível há 80 anos, sobretudo por uma mulher. Neste simples gesto, fica claro como Agustina era uma mulher ousada, muito à frente do seu tempo.
Outro aspecto que me agradou imenso nesta novela é a intertextualidade com a obra de Agustina. A jovem Raquel, leitora ávida, vai despertando na sua amiga Augusta, mais vocacionada para as aplicações digitais na procura incessante da relação certa, um interesse cada vez maior ao ponto de se “estabelecer um diálogo interno” entre ela e Agustina.
“A Agustina-interior primava pela clarividência e segurança; sabia o que queria e não duvidava do seu valor nem enquanto scritora, nem enquanto mulher. Tudo aquilo que Augusta sentia que lhe faltava. Completavam-se.” (p. 77)
Recomendo muito este pequeno livro. Joana Bértholo tem a capacidade de nos agarrar às suas histórias. Esta é bem cativante e tem, para mim como professora bibliotecária, não um, mas dois finais felizes.
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