27 novembro, 2024

𝑴𝒂𝒕𝒂𝒓á𝒔 𝑼𝒎 𝑪𝒖𝒍𝒑𝒂𝒅𝒐 𝒆 𝑫𝒐𝒊𝒔 𝑰𝒏𝒐𝒄𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔, Rodrigo Guedes de Carvalho

 

Autor: Rodrigo Guedes de Carvalho
Título: Matarás Um Culpado e Dois Inocentes
N.º de páginas: 350
Editora: D. Quixote
Edição: Outubro 2024
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3627)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Quando terminei As Cinco Mães de Serafim, escrevi que o facto de o autor não ter desvendado alguns mistérios não era relevante para o propósito do livro porque o importante estava lá, dito directamente ou nas entrelinhas. Agora que li a sequela, considero que este livro tinha mesmo de ser escrito. A revelação dos segredos que ficaram em aberto, no anterior, torna a história da família Temeroso bem mais empolgante e emotiva. A narração do mistério que envolveu o desaparecimento de uma irmã do protagonista, Miguel Temeroso, e a morte de outras três, levanta questões profundas sobre noções de culpa, inocência, redenção. A tragédia ocorrida há 50 anos, na noite de 24 de Abril de 1974 acabou por passar quase despercebida, na pequena localidade de Gondarém, devido ao “acto revolucionário que fez cair o regime” e que ocorreu na mesma noite. Só o irmão, Miguel Serafim, permanece emotivamente perturbado (“Morri no dia em que morreram as minhas três irmãs. A única diferença é que continuei a respirar”), num estado de dúvida e de incompreensão, até ao dia em que lhe é revelado um segredo.

RGC mantém a escrita límpida e inteligente do romance anterior e já citado. Aprecio sobremaneira o entrelaçar dos tempos e das histórias que mantém o leitor suspenso. A atmosfera, neste livro, é bem mais densa e envolvente. Há uma aura de mistério, de sobrenatural, que engrandece a narrativa. Sem pressa e envoltas em suspense, as respostas vão surgindo, oscilando entre momentos de dúvidas e de confissões, de violência e de ternura, de desesperança e de aceitação, de encontros, de revelações e de libertação emocional.

Concluo, mantendo a convicção de que “a amizade talvez seja um outro nome para família”.
É esta a mensagem tão bem explorada nos dois livros do RGC e que, neste, eleva a narrativa a um patamar superior, que merece ser lido. No fundo, o importante não é saber quem e como matou. O importante é, mesmo, saber que há alguém, por perto e atento, para apoiar e erguer os que sobrevivem à dor, ao sofrimento.
Recomendo a leitura dos dois livros, contudo este, que pode ser lido de forma autónoma, é, para mim, muito mais impactante.


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