30 dezembro, 2023

𝑨 𝑴𝒂𝒅𝒐𝒏𝒂, de Natália Correia

 




Autora: Natália Correia
Título: A Madona
N.º de páginas: 171
Editora: Casa das Letras
Edição: Fevereiro 2011
Classificação: Romance
N.º de Registo: (BE)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Conhecemos a Natália Correia como sendo uma mulher intelectual de personalidade exuberante e excessiva que se debatia convicta e vigorosamente na bancada parlamentar. Sabemos também que teve um papel activo de confronto com o Estado Novo e que viu muitas das suas obras censuradas. Conhecemos alguma da sua poesia, e ouvimos falar das suas famosas tertúlias, que resultavam a maioria das vezes em vigorosas discussões, promovidas em sua casa ou no Botequim, à Graça. E da sua prosa? O que conhecemos?

Confesso que A Madona, editado em 1968, foi o primeiro romance que li dela. E li-o agora porque a biografia O Dever de Deslumbrar, de Filipa Martins me deslumbrou e convenceu.

Em boa hora o fiz. Não foi uma leitura fácil, e esta narrativa não linear, centrada nas memórias e num percurso espiritual da protagonista, complica a compreensão inicial do enredo, mas a sua escrita, num estilo grandiloquente e erudito, é muito poética e irónica. O que me apraz sobremaneira.

Neste romance, Natália Correia conta-nos a história de Branca, filha única e rica, que é incentivada pela mãe, após uma tragédia familiar, a estudar no estrangeiro.
Branca instala-se inicialmente em Paris. Aí é confrontada com uma mentalidade intelectual e moralmente comprometida. Vive excessos. Procura acompanhar as diversas manifestações de feminilidade. Abandona-se a paixões. Conhece pessoas inquietas e perturbadas. Conhece mulheres que vivem o amor livremente. Ilude-se com as suas emoções. É Infeliz. Duvida de si, da sua beleza, da sua capacidade de amar. Facilmente compra um “bilhete para a solidão.” Regressa à aldeia em busca de soluções.

Numa sociedade patriarcal, onde os desejos e as práticas sexuais livres eram censurados pela moral vigente salazarista, Natália Correia retira Branca da sua aldeia provinciana e preconceituosa, dominada pelos homens e onde as mulheres levam uma vida de submissão, e coloca-a primeiro a viver em Paris, e mais tarde a viajar pela Europa, para lhe dar a conhecer novas formas de viver e de pensar. “Estúpida civilização que não percebe que definha porque atrofiou o sentimento.” (p. 165)

Natália Correia põe assim em destaque a mulher em busca da liberdade sexual, em busca de uma liberdade interior. Afinal o que está em causa é sobretudo o respeito pela mulher, pelas suas escolhas, pela sua liberdade.





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