Autor: Aquilino Ribeiro
Título: Uma Luz ao Longe
N.º de páginas: 166
Editora: Bertrand Editora
Edição: Setembro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3466)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐
Uma Luz ao Longe é nesta edição prefaciada pelo escritor Gonçalo M. Tavares que incita o leitor a uma atenção redobrada e a meter-se “ por inteiro no livro que lhe exige energia da bruta e da boa.” Já que toda a energia exigida “por um livro de Aquilino é retribuída, em dobro, pelo prazer que se recebe.” Trata-se de uma fórmula inteligente de estimular a leitura deste livro.
Este romance de formação, e de cariz autobiográfico, narra o período da vida de Amadeu Magalhães, o protagonista, que com dez aninhos tem de sair de casa e apresentar-se no seminário do Colégio da Nossa Senhora da Lapa. Menino inteligente, e curioso é alvo de chacota dos outros colegiais, sente vergonha das suas origens, não aprecia a clausura a que é sujeito, sofre com o afastamento da sua gente, questiona a “hostilidade que se açulara” contra ele, estranha a vida austera e os ensinamentos recebidos pelo que se fecha dentro da sua “timidez selvagem como dentro de uma cidadela”, mostrando desde logo a sua fraca vocação para a vida de sacerdócio.
“ – Este rapazinho é pior que um gato assanhado. Não se metam com ele. Deixem-no que logo amansará!
Tal foi a minha iniciação no Colégio de Nossa Senhora da Lapa, instituído e patrocinado pelo prelado da diocese para ensino de meninos e seu ordenamento na carreira eclesiástica e civil. “ (p. 44)
O protagonista “traquinas, leviano porventura, dado à ribaldia” sempre que algo acontecia, constava na lista dos suspeitos e sentia repulsa pela injustiça praticada pelos padres. “A mim nada me fere tanto como a injustiça” (p. 148)
Até que um dia, após um determinado episódio, e confirmando uma forte personalidade já bastante notória, é expulso do seminário, pondo em causa o sucesso dos exames e a continuação dos estudos. Amadeu, em casa, livre e já com um carácter determinado prepara-se com dedicação e apresenta-se aos exames. Contrariando as expectativas dos seus antigos professores do seminário, passou com sucesso.
E assim, com esta atitude se começa a forjar, desde muito jovem, o seu ex-libris - “Alcança quem não cansa” – porque nas horas de maior tristeza e amargura, uma luz “pequenina, bruxuleante, vinda de longe, crescia, e iluminava-me o caminho. (…) A questão para o indivíduo é ter olhos que a descubram.” (p- 130)
Sob a forma de memórias, o mestre Aquilino Ribeiro apresenta-nos um testemunho fabuloso das gentes, da terra e paisagens da Beira Alta, mas mostra-nos sobretudo que “no homem tudo consiste em ser e subsistir. Ser envolve um problema de ordem temporal, mas subsistir um problema de eternidade.” (p. 133)
Resta-me acrescentar que o percurso literário que realizei às Terras do Demo, no início deste mês, e mais concretamente A Nossa Senhora da Lapa com o privilégio de visitar os espaços, quarto incluído, onde Aquilino viveu, proporcionou-me o triplo do prazer na leitura deste livro que recomendo. Afinal, o Gonçalo M. Tavares tinha razão.
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