19 dezembro, 2022

𝑻𝒓𝒊𝒍𝒐𝒈𝒊𝒂, de Jon Fosse

Autor: Jon Fosse
Título: trilogia
Tradutora: Liliete Martins
N.º de páginas: 204
Editora: Cavalo de ferro
Edição (3.ª): Fevereiro 2022
Classificação: Novelas
N.º de Registo: (3357)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Trilogia requer, de início, um enorme esforço de concentração para aceitar a escrita de Jon Fosse e não desistir. Quase sem sinais de pontuação e com repetições exaustivas de frases, de falas, de verbos introdutores de discurso (“diz ele”), o texto torna-se, por vezes, insólito. Mas o que se estranha, no início, após algumas páginas, acaba por se entranhar e apreciar. E a partir daí, o leitor não mais quer parar. É a escrita simples e a melodia das frases provocada pelas repetições e pelas pausas inerentes ao diálogo que cativam e agarram o leitor.

Composto por três novelas, e apesar da distância temporal entre elas, as personagens mantêm-se sobretudo através da evocação constante e repetitiva de lugares, de pessoas e de acções. O passado, o presente e o futuro enleiam-se e tropeçam em enredos impossíveis, em ilusões, em sonhos, em memórias.
A primeira novela inicia com um jovem casal que, obrigado a sair da sua aldeia, vagueia ao frio e à chuva, na escuridão de uma cidade à procura de um abrigo. Ao longo desta trilogia, percorremos os mesmos caminhos de Asle e Alida, compreendemos a dificuldade de sobrevivência numa sociedade hostil, o desamparo de ser rejeitado e incompreendido por todos, e aplaudimos o amor existente entre os dois jovens que acaba por justificar os erros cometidos. Afinal, se segundo a sinopse, estamos perante uma “parábola de inspiração bíblica sobre o amor, o crime, o castigo e a redenção”, então tudo fará sentido num mundo dividido entre o Bem e o Mal.
Destaco a terceira novela pela beleza e sensibilidade da escrita na descrição das emoções de Alida. O seu amor por Ales mantém-se imutável e eterno mesmo para além da morte.
“ (…) e Alida acredita que ela e Asle ainda são um casal de namorados e estão juntos, ele com ela, ela com ele, ela nele, ele nela, pensa Alida e olha na direção do mar e do céu, e vê Asle, vê que o céu é Asle, e sente o vento, e o vento é Asle, ele está ali, ele é o vento, mesmo que ele não exista, ainda continua ali presente, (…)” p. 183

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