28 dezembro, 2020

𝓑𝓪𝓲𝓵𝓪𝓻𝓲𝓷𝓪𝓼 𝓭𝓮 𝓒𝓸𝓻𝓭𝓪, de Lília Tavares

 


OPINIÃO


“Que tumulto é este, que inquietude salta/ dos corações das mulheres que agitam as palavras?” (p.50). 
Assim, começa um dos poemas deste livro que enaltece e homenageia as mulheres. Todas as mulheres. A mulher-menina, a jovem mulher, mulher amada, mãe, esposa, marinheira, bordadeira, professora, abandonada, feliz, sonhadora, saudosa, perdida, conformada… 
“(…) abdicam de ser felizes/ ao largarem flores nos lugares onde choraram.” (p.31)

Todas bailarinas porque descritas com delicadeza, harmonia, elegância, mesmo quando “forçadas” a agir pela força da “corda”. 

“Há mulheres que diariamente são flores.
Frescas, portadoras de gotas de orvalho matinal.
Perfumam quem as rodeia como se fossem óleo aromático
em lamparinas que teimam em manter a claridade
na negrura da indiferença das noites longas.
Cantam.
São água que na madrugada sacia a avidez de colo
e de ternura.”

Ao longo dos 65 poemas, a mulher é descrita em união com a natureza, em harmonia com a beleza das flores, das aves, da água, do mar, mas também do vento, do sol, da noite.
“As mulheres têm a força de uma cascata /e a suavidade das violetas que respiram na janela.” (p.25)

Numa escrita poética, simples, emotiva e sincera, a mulher-poeta deixa transparecer a admiração, a gratidão, o carinho e o amor que sente por todas estas mulheres, sejam elas bailarinas porque felizes, fortes e amadas, ou bailarinas de corda porque conformadas e passivas, que preencheram ou ainda preenchem a sua vida. Há, assim, uma mulher que “agita as palavras” e as transforma em emoções.

“Tocam, cegas pelas palavras, labirintos de sonhos
e chegam ao seu lugar, um vasto areal de afectos que se
conjugam em todos os tempos, Ali quase todas as mulheres
ardem em incêndios efémeros e nos barcos dormem
ao som da ladainha verde das ondas. A praia no outono
é um leito frágil de silêncios e limos. São bailarinas
delicadas que se aconchegam nos braços amados, na
intermitência…
da luz. No abraço da noite, em mão amantes, os seus olhos
ousam uma certa forma de errância. Para elas
há muito as estrelas foram reticências. Contemplam
o firmamento na busca do significado para a claridade 
em andrómeda, órion e cassiopeia.



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