30 dezembro, 2020

𝘈𝘴 𝘌𝘴𝘵𝘢çõ𝘦𝘴 𝘥𝘢 𝘝𝘪𝘥𝘢, de Agustina Bessa-Luís



OPINIÃO

Pequeno livro, pouco divulgado, penso eu, porém uma autêntica pérola dos usos e costumes da gente do norte. Estas Estações da Vida, são nada mais do que um elencar de “memórias de viagens de pequeno curso que, desde a infância, me transportam de um lugar ao outro.” (p.17). A autora na sua viagem “de comboio” à beira do Douro, transporta-nos para “antigas carruagens”; faz-nos descobrir pessoas, costumes e terriolas; desvenda-nos histórias narradas nos painéis de azulejos. 
Apesar de pequeno, a narrativa contém informação vasta sobre a época, Agustina narra com subtileza e uma ponta de ironia certos episódios que viveu ou observou da sua aldeia. “Desde a aldeia de Ariz, podíamos ver quem entrava no comboio, se usássemos um binóculo. Quem se tinha por ilustrado e ocioso elegante tinha um binóculo em casa.” (p.29)

Adoro este excerto que mostra a perspicácia e o sentido crítico de Agustina:

“(…)Ninguém levava farnel nas carruagens de primeira classe. (…) era tudo muito discreto, muito digno, não se tirava o chapéu nem as luvas nem se abanava o rosto com um papel pregueado. 
(…) Nas carruagens de segunda classe era tudo mais falado. Faziam-se amizades, trocavam-se merendas, conselhos, as mães diziam coisas dos filhos e como os criavam. (…) A alma sensata viajava em segunda classe, era opiniosa e moderada; escandalizava-se facilmente. (…) Enquanto na terceira classe era a festa, diziam-se larachas, derramava-se vinho, ouvia-se o piar dos frangos nas cestas de vime vermelho. (pp.21 a 23)

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