15 maio, 2020

A Montanha da Água Lilás, de Pepetela


OPINIÃO

Pepetela, nesta fábula para todas as idades como o subtítulo indica, oferece-nos uma deliciosa alegoria social.
A narrativa é-nos apresentada sob a forma de um conto. Um conto que “O avô Bento, em noites de cacimbo à volta da fogueira, nos contou.” Ora, numa linguagem simples e poética, complementada por belas ilustrações vamos conhecendo os lupis: cambutas, lupões e jacalupis, animais que “pensavam, falavam e trabalhavam”. Pepetela na sua narrativa recorre ao linguajar angolano e cria neologismos interessantes como lupilar (fala dos lupis) e jacarejar (a fala dos jacalupis), facto que a torna muito viva e atractiva. 
O autor com este conto retrata a diferenciação de classes, a instituição de um poder abusivo e opressivo, o ódio e a cobiça, a ganância e o consumismo. Um grupo que vivia em harmonia, no “sítio mais calmo e perfumado da montanha e dali se podia ver melhor o luar da Lua cheia; por isso era o Morro da Poesia”, até à descoberta da água lilás (água com características próprias), foi-se transformando porque se deixou entusiasmar pelo lucro fácil, pela conversa dos oportunistas, e pelo mau uso da ciência, rejeitando os conselhos dos mais sensatos como o lupi-pensador e o lupi-poeta. 

“Não quero discutir nada, só quero fazer as minhas experiências, a sabedoria resolve tudo. A sabedoria até pode resolver, mas depois os outros utilizam o resultado da sabedoria ao contrário e a coisa vira prejudicial, é o que tem acontecido com os lupis.” (p. 143). 
Em conclusão, o progresso, as descobertas da ciência, são positivos se forem bem utilizados, caso contrário provocam o caos, a guerra, a discórdia, a desarmonia. Esta é para mim, a grande lição desta fábula encantadora.


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