Autor: Juan Gabriel Vásquez
Título: Olhar para trás
Tradutor: Vasco Gato
N.º de páginas: 490
Editora: Alfaguara
Edição: Setembro 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3342)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐
Olhar para trás entrelaça uma história de vida, a de Sergio Cabrera, realizador colombiano, e a trajetória política da Colômbia e da China do século XX.
Juan Gabriel Vásquez (JGV) mesclando realidade e ficção, de forma sublime, oferece-nos um relato avassalador. Pela voz do protagonista, Sergio Cabrera, percorremos caminhos complexos da Guerra Civil de Espanha, do exílio na América Latina (vários países), da Revolução Cultural da China de Mao e da guerrilha na selva colombiana.
A morte de Fausto Cabrera, pai de Sergio, com 92 anos surge no início da narrativa e é o pretexto para a rememoração de uma vida fascinante repleta de lutas, de convicções, de mágoas, de silêncios, mas também de amor pela família, pela causa política, pelo cinema.
Sergio Cabrera e a sua família (avô, pais e irmã) viveram de forma activa e determinada os ideais de esquerda. Viveram na China para um melhor entendimento da ideologia de Mao e regressaram à Colômbia com o intuito de replicarem os seus conhecimentos, integrando os grupos de guerrilha durante alguns anos.
Decepcionados e desencantados pelas acções do partido comunista, acabam por abandonar a guerrilha e fugir do país. “ A decepção de Luz Elena (a mãe) foi dilacerante. Sentia-se traída pelo partido ao qual entregara os últimos anos da sua vida.” (p. 420). O pai que “era uma figura de renome, da qual a gente do teatro (mas também a da televisão e do cinema) falava com o respeito suscitado pelos pioneiros, ainda que as controvérsias sempre o tivessem rodeado e tivesse tantos amigos como inimigos.” (p. 16).
A morte do pai marca, para o filho, o fim de um ciclo. Sérgio, então em Lisboa, com uma restrospectiva dos seus filmes agendada para Barcelona, decide que não viajará para assistir ao funeral do seu pai, na Colômbia. O seu “lugar é com os vivos, não com os mortos.” (p. 24)
Este livro, Olhar para trás, resgata a memória de um passado doloroso da história colombiana. A partir das conversas que JGV manteve com Sergio Cabrera e a sua irmã Marianella, ao longo de sete anos, e da recolha de testemunhos, o autor constrói a narrativa de uma família devastada e decepcionada pelo fanatismo comunista. A partir dos factos vividos, nas contradições e nas emoções reveladas por Sergio, o autor acrescenta-lhe a sua subjectividade e interpretação e lega-nos um romance brutal que tem tanto de histórico como de vida privada e intima.
No F(o)lio, em Óbidos, JGV referiu que “um romancista não vale nada se não for um historiador de emoções”. Penso que neste romance o conseguiu muito bem porque a sua narração vai muito para além da mera descrição dos factos vividos por Sergio Cabrera. Esta afirmação, também referida por outras palavras, na Nota do autor, clarifica a epígrafe de abertura deste livro:
“Pois, segundo a nossa visão das coisas, um romance deveria ser a biografia de um homem ou de um caso, e toda a biografia de um homem ou de um caso deveria ser um romance” (FORD MADOX FORD)
Recomendo. Li, apenas, dois dos vários livros publicados em Portugal, mas fica a promessa de outras leituras.
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