17 janeiro, 2023

𝑨 𝒄𝒐𝒓 𝒅𝒐 𝒉𝒊𝒃𝒊𝒔𝒄𝒐, de Chimamanda Ngozi Adichie

 



Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Título: A cor do hibisco
Tradutora: Tânia Ganho
N.º de páginas: 366
Editora: D. Quixote
Edição: Fevereiro 2019
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3360)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


A cor do hibisco é o primeiro romance publicado pela escritora nigeriana (2003).

Adichie narra a história de uma família nigeriana, a partir da qual são apresentadas questões inerentes à cultura da Nigéria, bem como ao processo de colonização britânica ocorrido no país.
Penso que em certa medida, os conflitos abordados ao longo da narrativa revelam o contexto geral do país, bem como a própria vivência da autora. Adichie foca-se nas diferenças e nas relações conflituosas para mostrar uma África diferente com uma identidade e uma cultura bem próprias.

Kambili é a personagem responsável por explicitar, através da sua narrativa, as novas perspectivas sobre a história, a língua (há termos de Igbo em “entrelinguagem” que não foram traduzidos) e a cultura da Nigéria. É ela que representa, através do seu testemunho e das suas memórias, toda uma nação pós-colonial marcada por guerras e silenciada pelo Ocidente.

Kambili tem 15 anos. Cresce numa família abastada, mas sujeita a uma educação severa e cristã. Ela e o seu irmão Jaja vão ficar marcados pelo fanatismo religioso do pai, Eugene, e Beatrice é uma mãe e esposa submissa e maltratada. E esta é ideia que forjamos logo com a primeira frase do romance “As coisas começaram a desmoronar-se em casa quando o meu irmão, Jaja, não foi comungar e o Pai atirou seu pesado missal de um lado ao outro da sala e partiu as estatuetas da estante.”

Contudo, uma visita à tia e aos primos, em Nsukka, vai proporcionar aos dois irmãos uma nova visão do mundo, de convivência e sobretudo de liberdade. Esta nova perspectiva de vida vai ser difícil de absorver, sobretudo por Kambili, mas a pouco e pouco vai embrenhar-se nos seus espíritos e libertá-los das regras rígidas impostas pelo pai, ao ponto de questionarem a educação recebida, os hábitos familiares e a prática religiosa.

A dicotomia sociocultural nigeriana está estampada nas duas cores predominantes do hibisco na narrativa: o vermelho, na cidade de Enugu onde vive Kambili e a sua família simboliza o amor opressivo e a religião cristã; o azul, em Nsukka onde vivem a tia e os primos, representa a liberdade, a mudança, a descoberta.

Recomendo muito.


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