21 julho, 2022

Há dias assim... de desassossego



Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...)

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

(...)

Fiz de mim o que não soube.
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara.
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho.
Já tinha envelhecido.
(...)


Tabacaria, Álvaro de Campos| Fernando Pessoa




Sem comentários:

Enviar um comentário