24 julho, 2022

𝑪𝒊𝒔𝒏𝒆𝒔 𝑺𝒆𝒍𝒗𝒂𝒈𝒆𝒏𝒔- 𝑻ê𝒔 𝑭𝒊𝒍𝒉𝒂𝒔 𝒅𝒂 𝑪𝒉𝒊𝒏𝒂, de Jung Chang

 



Autora: Jung Chang
Título: Cisnes Selvagens - Três Filhas da China
Tradutor: Mário Dias Correia
N.º de páginas: 517
Editora: Quetzal Editores
Edição: 1995
Classificação: Romance histórico
N.º de Registo: 542

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Cisnes Selvagens- Tês Filhas da China é um belíssimo romance histórico sobre os grandes acontecimentos da China do século XX. Jung Chang mergulha nas suas memórias para nos relatar os tumultos políticos da ocupação japonesa até às políticas de Mao Zedong (Mao Tsé-Tun) vividos por três gerações de mulheres: a sua avó, a sua mãe e ela própria.
É através das perpectivas e vivências destas três mulheres que mergulhamos nesta aventura épica. A autora narra tradições, acontecimentos, reformas e transformações do seu país e da sua família ao longo de três gerações. De forma intimista, tomamos conhecimento das várias provações a que os pais foram submetidos para aderirem ao partido, sobretudo a mãe, dos momentos dolorosos vividos em família causados pelos “valores do partido” que se sobrepunham aos valores familiares.
São dilacerantes os relatos de episódios de extrema dureza que desvelam a angústia, o sofrimento e a incompreensão da mãe perante o alheamento e ausência do pai que sacrificava a sua vida pessoal e familiar em prol de uma causa.
É pela escrita que a autora tenta libertar-se dos traumas atrozes vividos na família, na escola, na sociedade. Bem cedo compreende que a sua família, que de início tinha privilégios devido à posição do pai, é também marcada pelo infortúnio, pela denúncia, pela perseguição, pela violência, pela tortura, pelas lutas constantes de um poder autocrático. Apesar de tudo e de todos, Jung Chang e os seus irmãos cresceram cercados de amor pelos seus pais e avó materna, mesmo estando muitas vezes separados.
Este facto bem como a coragem e a integridade dos seus pais vão facultar-lhe forças e discernimento para, silenciosamente, começar a duvidar da doutrina de Mao e tomar consciência das desigualdades sociais “O que fora que transformara as pessoas em monstros? Foi neste período que a minha devoção a Mao começou a esmorecer.” (p. 357)
É muito interessante acompanhar o seu confronto interior, as suas dúvidas, as emoções ao “desafiar abertamente Mao no tribunal do meu espírito.” (p. 483)

Recomendo muito. Ninguém sai incólume desta leitura que para além de nos permitir conhecer uma parte da História da China, nomeadamente, a destruição de um país e o aniquilamento de uma população causados pelo poder totalitário, faculta-nos, sobretudo, o testemunho visceral e intimista de uma mulher que se foca nas lutas travadas quer pela sua avó quer pela sua mãe. Destas quinhentas e poucas páginas, destaco como aspectos essenciais a compreensão da posição da mulher na sociedade chinesa; o auto conhecimento da própria autora; a esperança e as oportunidades necessárias para um futuro melhor.
“Tinha conhecido o privilégio e as denúncias, a coragem e o medo, tinha visto a bondade e a lealdade bem como as profundezas mais negras da alma humana. No meio do sofrimento, das ruínas e da morte, tinha sobretudo conhecido o amor e a indestrutível capacidade humana de sobreviver e procurar a felicidade. (…) Lancei um último olhar à minha vida passada e depois voltei-me para o futuro. Estava ansiosa por abraçar o mundo.” (p. 514)



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