11 julho, 2022

𝑴𝒐𝒓𝒓𝒆𝒓 𝑺𝒐𝒛𝒊𝒏𝒉𝒐 𝒆𝒎 𝑩𝒆𝒓𝒍𝒊𝒎, de Hans Fallada

 


Autor: Hans Fallada
Título: Morrer Sozinho em Berlim
Tradutor: Carlos Leite
N.º de páginas: 502
Editora: Relógio d'Água
Edição: Novembro 2016
Classificação: Romance
N.º de Registo: 3112


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Pouco tenho lido sobre a resistência alemã na ditadura nazista. Segundo o posfácio do editor português, esta narrativa “reporta-se aos acontecimentos reais, mas contém já interpretações, cria episódios ficcionados e novas personagens.”
Assim, é a partir da história real do casal Otto e Elise Hampel (Otto e Anna Quangel no romance) que o autor descreve a luta contra o regime de Hitler, dos horrores da vida alemã, sobretudo a berlinense, ao longo da segunda guerra mundial. Uma vida de medo, de desconfiança, de delação, de cobardia, de vícios, de tirania, de tortura.
“(…) É de tal maneira desgastante ter de prestar atenção todo o tempo, este medo que nunca acaba…” (p. 134).

Não vou revelar nada do enredo. É importante que o leitor vá mergulhando docemente na narrativa e que dela emirja, de vez em quando, para respirar e ganhar fôlego.
Hans Fallada constrói a sua narrativa de forma sublime e num estilo corrosivo. As suas personagens complexas e magnificamente construídas, revelam muito do carácter e do estatuto de cada figura-tipo da sociedade representada no romance. As duas personagens principais (o casal Quangel) são-nos apresentadas num crescendo, os meros operários exemplares e, por isso, insignificantes vão empreender uma campanha de resistência à propaganda nazista, primeiro na clandestinidade, de forma ingénua e aparentemente inofensiva, e depois na prisão pacífica e corajosamente.
“ (…) este terceiro Reich guardava surpresas sempre novas para os seus detratores mais acérrimos, a sua perversão transcendia a própria perversidade.”

A revelação de um país antissemita, cruel, delator, corrupto onde impera o medo, a violência, a morte é-nos feita de forma clara e objectiva. Tudo é dito, nada é evitado ou amenizado e o leitor não sai ileso de tão dolorosa e emotiva exposição.
“Camaradagem, rodadas de brindes, descontração, alegria, o repouso bem merecido depois de tanto trabalho a torturar os semelhantes e a conduzi-los ao cadafalso.” (p. 199)

Contudo, nem tudo é crueldade e, ao longo da narrativa, vamos mesmo assim descortinando actos de bravura, de solidariedade e de esperança.

Recomendo vivamente.




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