19 junho, 2022

𝑺𝒉𝒖𝒈𝒈𝒊𝒆 𝑩𝒂𝒊𝒏, de Douglas Stuart

 


Autor: Douglas Stuart
Título: Shuggie Bain
Tradutor:Hugo Gonçalves
N.º de páginas: 492
Editora: Alfaguara
Edição: Setembro 2021
Classificação:Romance
N.º de Registo: (3341)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Shuggie Bain relata o quotidiano de um rapaz especial e da sua mãe alcoólica. Situa-se nos anos 80, num meio hostil, de uma Glasgow pobre, violenta, conservadora e homofóbica marcada pelas políticas de austeridade de Thatcher.
Douglas Stuart para dar voz a esta personagem inspirou-se na sua própria infância vivida no seio da classe operária em Glasgow, também marcada pela homofobia, pela pobreza e pelo alcoolismo da sua mãe. (entrevista à agência Lusa)

Apesar da vida miserável das personagens, da angústia de Shuggie e os outros filhos verem a mãe a consumir-se pelo álcool, do bullying a que o protagonista é sujeito na escola e na vizinhança, a mensagem principal deste romance incide, na minha opinião, na grande história de amor do filho Shuggie pela mãe, Agnes.

Ao centrar a sua narrativa em Shuggie, porque poderia centrá-la em Agnes, o autor acaba por nos oferecer uma história de superação, de esperança, de questionamento sobre o que é ser normal numa sociedade machista, conservadora onde a homossexualidade não é aceite. Agnes e o seu filho mais novo são ostracizados, ridicularizados. Ela porque é bela, extravagante e alcoólica, ele porque é educado e “diferente”.

É uma história visceral, onde a dignidade, o amor-próprio, o orgulho e a vergonha coabitam. É uma história dilacerante, dura, cruel onde os vícios do álcool, do jogo, da prostituição se avolumam. É uma história de (auto)destruição, de abandono, de traição, de promiscuidade, de comiseração. Contudo, e apesar de tudo e todos, subsiste a doçura, a dedicação, a resiliência, o amor de um filho à sua mãe.

São cerca de 500 páginas que nos preenchem de múltiplas e contraditórias emoções, que nos arrepiam, que nos fazem refletir. O leitor mergulha nelas intensamente, dolorosamente, precisando de vir à tona, por vezes, para respirar, para aliviar a tristeza e o incómodo, para acalentar a esperança.

Sobrevivi, mas com algumas mazelas. Recomendo.

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