10 maio, 2022

𝑶 𝑫𝒆𝒔𝒆𝒓𝒕𝒐 𝒅𝒐𝒔 𝑻á𝒓𝒕𝒂𝒓𝒐𝒔, Dino Buzzati

 

Autor: Dino Buzzati
Título: O Deserto dos Tártaros
Tradutora: Margarida Periquito
N.º de páginas: 231
Editora: Cavalo de Ferro
Edição 4.ª: Maio 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3359)




OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐



Feliz a hora em que me recomendaram a leitura deste livro, no clube de leitura do PNL. Foi assim que descobri o autor e esta belíssima e surpreendente narrativa. Provavelmente ter-me-ia escapado, como me escapou até à data, e, agora, depois de o ler, confesso que seria uma lacuna literária imperdoável.

O Deserto dos Tártaros foi publicado pela primeira vez em 1940, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. É considerada a obra mais importante de Buzzati e integra a extensa lista dos clássicos da literatura mundial.
Narra a história de Giovanni Drogo promovido a oficial. O jovem tenente é destacado para a Fortaleza Bastiani localizada na fronteira com um deserto. Lugar isolado e inóspito, sem acção, sem guerra, que apenas promove uma vida entediante, rotineira, porém ditada pela burocracia e por protocolos completamente anacrónicos.

Drogo de início pensou desistir e abandonar a Fortaleza, mas algo de inexplicável aconteceu assim que avistou o edifício e a paisagem envolvente e acabou por ficar…
“Todavia, como na tarde anterior do fundo do desfiladeiro, Drogo olhava-a [a fortaleza] hipnotizado, e uma inexplicável agitação penetrava-lhe no coração.” (p. 22)
Não vou revelar mais nada sobre a vida do protagonista na fortaleza, pois tiraria todo o encanto da descoberta da leitura. Posso, contudo, acrescentar que “ justamente naquela noite principiava para ele a irremediável fuga do tempo (…) Sentira o pulsar do tempo a marcar avidamente o compasso da vida.” (pp. 52-53)

Todo o oficial que é enviado para este lugar tem o sonho, o desejo, de alcançar a glória numa batalha, a “esperança de coisas nobres e grandiosas”, mas o narrador omnisciente vai fornecendo indícios, presságios ao longo da narrativa e cedo percebemos que tal poderá não acontecer. Mas a dúvida persiste no leitor e este jogo é magnificamente conduzido ao longo do texto.

Acompanhamos o tédio, o torpor, a apatia, a inércia perante uma tomada de decisão, a infelicidade, mas também a vaidade militar, o “prazer das regras de serviço”, o prazer da solidão, o hábito de uma vida acomodada e rotineira e as emoções sentidas perante a beleza das “negras voragens do vale”, das montanhas cobertas de neve, dos ecos das cornetas, das luzes do crepúsculo, …

Tal como no mito de Sísifo onde “o homem vive sua existência em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo, ininteligível”, aqui, na narrativa os homens preparam-se diariamente para uma batalha que nunca acontecerá, para a glória que nunca conhecerão. “A glória é a moeda mais inútil, vã e falsa em uso entre nós.“ (Montaigne)

É o absurdo! E assim, o tempo passa, e passa e “a vida da Fortaleza devorava os dias, um após outro, todos semelhantes, a uma velocidade vertiginosa.” (p. 75)
É um livro sobre a fugacidade do tempo, sobre decisões, sobre oportunidades perdidas e sobretudo sobre o conformismo, e, apesar de tudo, também sobre a esperança.
É um livro que levanta muitas questões, que nos faz reflectir sobre o sentido da vida, sobre as decisões que tomamos, ou não, ao longo da nossa existência.

Recomendo vivamente!

 

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