06 setembro, 2021

𝑨 𝑪𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒂𝒔 𝑭𝒍𝒐𝒓𝒆𝒔, de Augusto Abelaira

 



Autor: Augusto Abelaira
Título: A Cidade das Flores
N.º de páginas: 246
Editora: Unibolso
Edição: 1959
Classificação: Romance
N.º de Registo: (34)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Romance publicado em 1959 (o primeiro do autor) situa-se na Itália (Florença) de Mussolini, anos 30. Ao focar-se no regime fascista italiano, o que o autor pretende é denunciar a situação portuguesa e, assim, “sugerir uma certa imagem de Portugal, o Portugal fascista dos anos 50”. Desta forma, colocando a acção noutro país, o autor logra a política de censura salazarista.
A narrativa dividida em duas partes, aborda o comportamento dos jovens perante o regime opressor no antes e durante a segunda guerra mundial.
É interessante constatar como funcionou muito bem a transposição da situação portuguesa para o meio político, social e cultural italiano. As preocupações, os desejos, os comportamentos retratados evidenciam claramente o que se passava em Portugal. (É estranho que a censura não tivesse percebido, ou foi-lhe útil ser hipócrita como o autor refere no posfácio?).

“É assim, como poderemos viver felizes sob este regime? Ele mata-nos o espírito e até nos faz descrer das nossas próprias qualidades: pois não é certo que somos incapazes dum gesto heróico e de acabar com ele duma vez para sempre? Não. Estamos roídos pelo medo, pela nossa própria cobardia.” (p. 234)
Atitudes, como a falta de empenho político, incapacidade de lutar, apatia perante o opressor, medo, ausência de fé, autocomiseração, descrença no futuro, conformismo, estão muito bem explanadas ao longo da narrativa e são representativas de uma juventude italiana, mas sobretudo portuguesa.
“ - Não crês no futuro. No fundo conformaste-te com o presente, embora ele te repugne. Desiste. Tornaste-te conformista.” (p. 178)

A Cidade das Flores continua a ser um romance intemporal e actual. De forma sublime e com alguma ironia, o autor descreve situações, constrói diálogos que ora corta ora intercala, que provocam no leitor imensas questões, imensas dúvidas sobre a existência humana, o relacionamento amoroso, a amizade, a (in)justiça, o pensamento crítico, o valor da arte na sociedade, a vida rotineira, a opressão e a guerra.

Recomendo! É importante manter viva a história de um país.


 



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