03 janeiro, 2021

Pedro Páramo, de Juan Rulfo

 


Autor: Juan Rulfo
Título: Pedro Páramo
N.º de páginas: 169
Editora: Cavalo de Ferro
3.ª Edição: Junho 2017
Classificação: Romance
N.º de Registo: (Empréstimo BE)


OPINIÃO: ⭐⭐⭐⭐⭐

Há muito que andava para ler este livro considerado, por muitos, como um dos melhores clássicos da literatura. Penso que se Gabriel García Márquez afirma que “o escrutínio a fundo da obra de Juan Rulfo me deu, por fim, o caminho que procurava para continuar os meus livros”, então está tudo dito. Estamos efectivamente perante um livro notável, singular, místico onde o murmúrio e o silêncio predominam e indiciam a morte.

“Agora estava aqui, nesta aldeia sem ruídos. (…) E embora não houvesse crianças a brincar, nem pombas, nem telhados azuis, senti que a aldeia estava viva. E que, se eu ouvia apenas o silêncio, era porque não estava ainda habituado ao silêncio; talvez porque a minha cabeça vinha cheia de ruídos e vozes.” (p. 24
Memórias e realidade entrecruzam-se a várias vozes. Tal como em Cem Anos de Solidão (romance em que se nota a influência de Rulfo sobre García Márquez), o realismo mágico é a característica dominante. 
Estamos perante um romance que revela muitos personagens, vivos e mortos (mais mortos do que vivos). São almas, fantasmas que vagueiam de noite, que murmuram, que falam entre si, que vão narrando a Juan Preciado, filho de Pedro Páramo, a história de seu pai que do nada foi “crescendo como uma erva daninha”, a sua paixão por Susana San Juan, a sua morte e com ela, a de Comala. 

“ – Esta aldeia está cheia de ecos. Parece que estão fechados no interior das paredes ou por baixo das pedras. Quando andas, sentes que vão pisando os teus passos. Ouves estalidos. Gargalhadas. Uma gargalhadas já muito velhas como se estivessem cansadas de rir. E vozes já gastas pelo uso. Ouves tudo isso.” (p.59) 

Poder-se-á afirmar que Rulfo ao comparar Comala ao Inferno é uma alegoria ao continente sul-americano e mais concretamente ao México, já que na obra há referências à história e à política mexicanas. 

“- Sim, e isto [o calor] não é nada – respondeu-me. - Espere. Vai senti-lo ainda mais quando chegarmos a Comala. Aquilo está sobre as brasas da Terra, na própria boca do Inferno. Basta dizer-lhe que muitos dos que lá morrem, quando chegam ao Inferno, regressam em busca do seu agasalho. “ (p.22)



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