29 janeiro, 2021

𝑨𝒑𝒏𝒆𝒊𝒂, de Tânia Ganho

 

Autor: Tânia Ganho
Título: Apneia
N.º de páginas: 692
Editora: Casa das Letras
Edição: 1.ª edição Jul. 2020 / 2.ª edição Jul. 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Apneia: “Ausência ou interrupção momentânea da respiração” foi neste estado que permaneci ao longo da leitura deste livro. Tive de retrair o impulso de o ler de seguida, senti que se o fizesse também eu ficaria perturbada, insone. Foi necessário dosear a leitura para acompanhar a violência psicológica, o medo, a náusea vividos por Adriana e Edoardo, o seu filho.
Este livro é um autêntico murro no estômago. Não é novidade para ninguém o quão doloroso é um processo de guarda partilhada de um filho, sobretudo quando um dos progenitores semeia ódio e manipula a criança para atingir o outro cônjuge. São 692 páginas de demonstração de ódio, de manipulação, de mentiras, de submissão, de terror, de idas a tribunais, ao psicólogo, ao psiquiatra, a advogados, e finalmente de descobertas… descobertas terríveis que sufocam o leitor, que o mantêm em apneia, que o deixam indignado com a lentidão e a inoperância da justiça e de todos os que deviam defender os direitos e o bem-estar de uma criança. É inadmissível a cegueira da justiça que nesta história, como em tantas da vida real, falha na sua missão de proteger a criança, de proteger a mulher violentada…
“Estava em guerra contra o sistema que, podendo prevenir, optava por remediar. «A justiça não é preventiva», explicara-lhe uma das muitas autoridades que contactara. «A justiça é punitiva.»” (p. 577)

Gostei muito da escrita sensível e comprometida de Tânia Ganho. Gostei da intertextualidade com a poesia de Anne Sexton. “Que arca/poderei eu encher para ti quando o mundo se tornar selvagem?” (p.49)
Gostei da estrutura que, de início, atrapalha o leitor porque anacrónica, mas que pretende representar o estado mental caótico de Adriana, (um reflexo da sua fragmentação” p. 348) a mãe que tudo fez para manter a saúde mental do seu filho nesta guerra parental à custa de tanta dor, de tanta mágoa, de tanta injustiça, mas também de tanta perseverança e amor.


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