10 janeiro, 2021

𝑭𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆, de João Tordo

                                                     

Autor: João Tordo
Título: Felicidade
N.º de páginas: 390
Editora: Companhia das Letras
1.ª Edição: Outubro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: 3253


OPINIÃO: ⭐⭐⭐⭐

É o nono livro que leio de João Tordo e a minha admiração pela sua escrita, pelo seu poder criativo quer ao nível da construção quer do enredo, tem vindo a crescer de livro para livro. 

Felicidade apresenta características de uma tragédia grega, não sendo uma peça de teatro, há contudo aspectos que para aí remetem, como por exemplo, a estrutura do romance, a divisão em três actos; o culto à mitologia grega; o tema da morte e a história trágica e dramática derivada da paixão humana; a tensão permanente em que vive a personagem e o final infeliz e trágico. 

Ao longo da narrativa, acompanhamos um jovem (não lhe foi atribuído um nome) desde os tempos em que frequentava o liceu até à vida adulta, ao desenlace trágico. Conhecemos a sua família, alguns amigos e as trigémeas: Felicidade, Esperança e Angélica. 
Trata-se de uma história intensa, marcada por muito sofrimento, solidão e loucura, ao contrário do que os nomes atribuídos às figuras femininas poderiam indiciar: uma história de amor, de felicidade e de tranquilidade. O leitor nem terá tempo de alimentar essa ilusão porque logo nas duas primeiras páginas, o narrador revela o estado final das irmãs e ao apresentá-las, cria um certo suspense que provoca no leitor uma vontade enorme de descobrir o mistério que envolveu a vida deste jovem. 

“A primeira das trigémeas foi o meu grande amor, a segunda a minha mulher e a terceira participante involuntária da minha ruína. Juntas, elas destruíram a minha vida de maneira lenta e insidiosa, como uma matilha de cadelas que rodeia, dia após dia, um passarinho esfomeado, até este jazer morto no chão da sua gaiola. Finalmente, encontram-se saciadas”. 

Para além do enredo trágico há uma excelente contextualização da História e da Cultura da época em Portugal (anos 70 e 80), bem como uma importante referência à mitologia grega que muito enriquecem a história. Gostei muito desta contextualização porque reavivou a minha memória. Quem viveu estes tempos sabe quão importantes foram. 

Recomendo a sua leitura. É um romance enigmático, trágico com pinceladas de humor e algumas passagens surpreendentes. 

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