18 outubro, 2020

Memória de Elefante, de António Lobo Antunes

 


OPINIÃO


Memória de Elefante é a estreia de António Lobo Antunes como escritor. Já com um estilo muito próprio, mas ainda em formação, que requer uma leitura atenta e cuidada. Estamos perante a história de um homem, psiquiatra, que vive um momento conturbado da sua vida. 

O livro de carácter autobiográfico é perturbador pois concentra-se no protagonista, homem de meia-idade, divorciado, que vive um intenso conflito interior. A narrativa relata os acontecimentos de um dia de trabalho, mas incide sobretudo nos seus pensamentos, memórias, saudades (da mulher e dos filhos) e dúvidas existenciais. “Mas ele, ele, ELE quando é que se lixara?” (p.27). 

A solidão, a desilusão e a revolta são os sentimentos dominantes desta narrativa. O protagonista amargurado com a vida e consigo mesmo odeia tudo, o local onde trabalha, os colegas, os pacientes, a sociedade hipócrita.
Porém, no final, surge uma réstia de esperança ou será resignação?

“Amanhã recomeçarei a vida pelo princípio, serei o adulto sério e responsável que a minha mãe deseja e a minha família aguarda, chegarei a tempo à enfermaria, pontual e grave, pentearei o cabelo para tranquilizar os pacientes, mondarei o meu vocabulário de obscenidades pontiagudas. (…) preciso de qualquer coisa que me ajude a existir.” (p.188)

 


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