27 setembro, 2020

Rua de Paris em Dia de Chuva, de Isabel Rio Novo


OPINIÃO

Parti para a leitura deste livro com enormes expectativas. São muitos e convidativos os ingredientes que o compõem: a escrita da autora que muito aprecio; Paris (a “minha” cidade); Arte; Impressionismo… é uma viagem no tempo, é o regresso ao passado, mas sempre com um pé no presente. 
Adorei conhecer Gustave Caillebotte. Fiquei fascinada. O leitor é conduzido magistralmente pela vida e obra deste milionário, mecenas dos pintores impressionistas, seus contemporâneos, pintor vanguardista, colecionador de selos e de obras de arte, floricultor, velejador de regatas premiado, engenheiro e construtor naval. 

“Estamos, pois, em Paris, no inverno. Novembro ou início de dezembro [de 1877]. Gustave é um homem de estatura mediana, magro, de cabelo castanho-claro. (…). A Autora recorda estas coisas assim, como se as visse, porque na realidade as viu ou sente que as viu.” (p.12) 

A Autora, personagem do livro, vai cruzando a vida do biografado, inscrita nos factos históricos, sociais e culturais parisienses da época (Paris está em plena modernização sob o comando de Haussmann), com as suas recordações, pensamentos e intenções. 

“(…) a Autora tomou rapidamente uma decisão. Nada do que Helena afirmava [sobre Caillebotte] seria verdade. Ela, a Autora decidiria. “ (p.159) 

A intersecção das histórias recriadas é feita de forma sublime, com sensibilidade e paixão. “Era assim entre ela e Gustave Caillebotte” (p.16). Mas, não ficamos por aqui, para além desta intersecção constante ao longo da narrativa, há, ainda, uma outra ponta, uma outra personagem que também se cruza, com a Autora e de forma (in)directa com Caillebotte. Trata-se de Helena, a professora de História de Arte, especialista na vida e obra do pintor. Encontram-se várias vezes, num café em Paris. E apesar de ambas nutrirem uma paixão por Caillebotte, a relação entre as duas é tensa porque Helena enfrenta uma forte depressão. 

Ao longo do livro, a narradora revela-nos tudo sobre Gustave Caillebotte, apresenta-nos a sua família, elenca títulos de quadros pintados pelos artistas da época, descreve detalhadamente alguns dos quadros mais importantes do pintor e relata, ainda, as dificuldades pelas quais passaram os impressionistas e a incompreensão da sociedade perante esta nova maneira de representar a realidade. 

“Tentei, no fundo, mostrar-te o que vi. O que me tocava. O que me emocionava. Que pode ser a nossa passagem pelo mundo senão isso?” (p. 220). Refere Caillebotte sobre a sua pintura. 

Recomendo vivamente.


 

Sem comentários:

Enviar um comentário