No centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar e sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado. Tem a dimensão de um túmulo e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte.
Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso.
Possuo para sempre tudo o que perdi, e uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada.
Penso em ti...
Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto
– aqui sentado, junto à janela fechada.
Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez,
e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.
Recolho o mel, guardo a alegria, e digo baixinho:
Apaga as estrelas,
vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.
Al Berto, in Lunário
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