E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
no altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.
Coisas Lidas
Afirmas que brigámos. que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão
Que vais deixar a tua chave
E vais à cave içar o teu malão.
Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembrança? Que papel?
Os meus olhos , bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo – é minha!! –a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho, não sei se o queres levar, já está no fio.
É o teu casaco roto, aquele vermelho
Que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã? É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?
A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que já não vimos?
Das marés que estão lá á nossa espera?
Dividimos ao meio as madrugadas? E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.
Fui apresentado e presenteado com a poesia de Rosa Lobato justo recentemente. Mas ficou-me uma semente plantada permanentemente em mim, regando-se a si de silêncio e sol.
ResponderEliminarAbraço mineiro,
Pedro Ramúcio.
Não conhecia a autora através da poesia. Somente através de outros registos. Mas rendi-me: este crochet das palavras é uma arte maior!
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