29 abril, 2025

𝑻𝒓𝒊𝒆𝒔𝒕𝒆, de Dasa Drndic

 


Autora: Dasa Drndic
Título: Trieste
Tradutor: António Pescada
N.º de páginas: 419
Editora: Sextante Editora
Edição: Setembro 2019
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3603)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


23 abril, 2025

Ler a Liberdade


O grupo de leitores de Uma Casa Sem Livros esteve ontem reunido para falar de livros, de poesia, de música, de liberdade. As autoras em destaque foram Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno. Três Marias, três Mulheres que lutaram para que nós, mulheres, possamos, hoje, estar reunidas e falar livremente.

Apresentámos as nossa leituras, lemos excertos e poemas e ouvimos o poema "Segredo" cantado por Cristina Branco.
Os livros lidos pelos presentes e discutidos foram os seguintes:
As Novas Cartas Portuguesas, das três autoras;
A Desobediente - biografia de MTH, de Patrícia Reis
Minha Senhora de Mim; A Paixão Segundo Constança H.; As Luzes de Leonor, de Maria Teresa Horta;
Maina Mendes e Lucialima, de Maria Velho da Costa;
De Noite, Maria Isabel Barreno.

Hoje, dia 23, celebramos O Dia Mundial do Livro, objecto que nos faculta conhecimento; daqui a dois dias celebraremos a Liberdade que nos permite falar, ver e ouvir.
Vivemos dias conturbados, estranhos, não podemos permitir o regresso a um país triste, vestido de cobardia e hipocrisia.

O verso de Sophia ressoa, outra vez, com urgência: "Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar".

Viva a Leitura. Viva a Liberdade.

Nota: hoje, no auditório durante a representação de Uma peça de teatro, ouvi a actriz clamar que "A Liberdade é a cedilha da palavra esperança!" E eu gostei porque quero acreditar que assim é.



Segredo | Maria Teresa Horta

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar


DIA MUNDIAL DO LIVRO

 





22 abril, 2025

𝑳𝒖𝒄𝒊𝒂𝒍𝒊𝒎𝒂, de Maria Velho da Costa


Autora: Maria Velho da Costa
Título: Lucialima
N.º de páginas: 351
Editora: O Jornal
Edição (2.ª): Junho 1983
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3306)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Lucialima é um romance onde as múltiplas personagens nunca se cruzam. Maria Velho da Costa oferece-nos uma teia de histórias, que parecem contos, habitadas pelos traumas coloniais e pelos silêncios e receios vividos no período cinzento do antigo regime.

Num estilo muito próprio pela sua complexidade e inovação, MVC tece uma escrita com traços de erudição que desafia o leitor a ler devagar, com redobrada atenção, para poder descortinar o sentido do texto e captar a subtileza das diversas camadas de significação, presentes nas inúmeras referências. Nas seis partes que compõem o livro «Madrugada», «Manhã», «Meio-dia», «Três da Tarde», «Crepúsculo» e «Noite», a narrativa apresenta personagens distintas que, como já referi, nunca se encontram - Ramos, Mariana Amélia, Eugénia, Lima e Lúcia - e descreve episódios da vida de cada um, em sequências que se vão repetindo, de forma anacrónica. Ou seja, a narrativa inicia com «Madrugada», facilmente associada ao 25 de Abril, mas continua com outras referências de episódios anteriores.

A complexidade fragmentada e anacrónica, acrescida de uma fusão exímia do vivido e do imaginário, é susceptível de diversas interpretações e levam-me a intuir que a mensagem primordial é fazer coincidir as personagens num ambiente de isolamento, inacessível, mas desejado, numa oscilação ambígua entre o “eu” e os “outros”.
“ Eugénia levanta os olhos dos tecidos e suspira profundamente, do calor, do prazer de estar só. Só e em silêncio todo o dia. (…) A minha vida foi sempre pontuada por uma deliciosa relação com as pausas, o interior do silêncio dos interiores e das paisagens, a pulsação que as coisas tomam na ausência de outros, dos outros» (p. 271)

Maria Velho da Costa em Lucialima explora, na minha opinião, a solidão enquanto dimensão pessoal onde se reformulam opiniões, certezas e emoções a partir da memória (“Fiapos continuam a cruzar-se na memória”) e da imaginação, faculdades vitais que nos permitem (re)viver o passado e compreender o presente.




Arima | Eugénio de Andrade








ARIMA

Uma gaivota – dizes.

Sim, uma gaivota

passa distante e arde.

O teu rosto é azul,

e contudo está cheio

do oiro da tarde.



Uma gaivota.

Alma do mar e tua,

abandona-se à luz.



E na boca nem eu sei

se me nasce o coração

ou é a lua.




21 abril, 2025

Papa Francisco | 1927 - 2025

 



«Todos, todos, todos»


266.º Papa da Igreja Católica

Nascimento: Buenos Aires, Argentina · 16 de abril de 1927
Morte: Cidade do Vaticano · 7h35 -  21 de abril de 2025 (88 anos)

Nacionalidade: argentino

Nome de nascimento: Jorge Mario Bergoglio
Progenitores: Mãe: Regina Maria Sivori Gogna (1911-1981)
                    Pai: Mario Giuseppe Bergoglio Vasallo (1908-1959)

Funções exercidas: - Bispo auxiliar de Buenos Aires (1992-1997)
                             - Arcebispo coadjutor de Buenos Aires (1997-1998)
                             - Arcebispo de Buenos Aires (1998-2013)

Congregação: Companhia de Jesus
Diocese: Diocese de Roma
Eleição: 13 de Março de 2013 (12 anos e 39 dias) 
Entronização: 19 de março de 2013





16 abril, 2025

Devagar | Álvaro de Campos





Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
TaIvez a impressão dos momentos seja muito próxima...
Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?


Álvaro de Campos

15 abril, 2025

Procuro-te

 



Procuro-te

nas palavras
nas entrelinhas 
de uma página, 
de outra 
e de outra... 
em vão

O tempo e os silêncios
impiedosos
apagam palavras,
esbatem gestos, olhares, sorrisos,
esvanecem sensibilidades

Nas noites insones
invento-te
palavras que não dirás
gestos, olhares, sorrisos que não repetirás
em vão

Sobejam-me
ilusões em ruína
silêncio 

GR



14 abril, 2025

Mario Vargas LLosa (1936 - 2025)

 





Morreu, aos 89 anos, em Lima, o escritor Mario Vargas Llosa. Prémio Nobel da Literatura em 2010 e "imortal" da Academia Francesa (2023), o autor peruano-espanhol confessou que gostaria de ser lembrado pela sua escrita.

Nascido em Arequipa, a 28 de março de 1936, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa foi também político, jornalista, ensaísta e professor universitário.

Além do Nobel da Literatura, foi distinguido com vários outros prémios como o Rómulo Gallegos (1967), Princesa das Astúrias (1986), Planeta (1993), Miguel de Cervantes (1994), Jerusalém (1995), National Book Critics Circle Award (1997), PEN/Nabokov (2002) e Prémio Mundial Cino Del Duca (2008). Recebeu vários graus de doutor 'Honoris Causa'.

Em 2024, já depois de ter regressado ao país natal, publicou o seu último romance, Dedico-lhe o meu silêncio. 


12 abril, 2025

𝑻𝒓𝒊𝒍𝒐𝒈𝒊𝒂 𝒅𝒂 𝑪𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒆 𝑲., de Agota Kristof

 


Autora: Agota Kristof
Título: Trilogia da Cidade de K. 
O Caderno Grande | A Prova | A Terceira Mentira
Tradutor: António Gonçalves
N.º de páginas: 393
Editora: Relógio D'Água
Edição: Março 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3283)




OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Agota Kristof escreveu O Caderno Grande, A Prova e A Terceira Mentira, entre 1986 e 1991. Em Portugal, estes três livros foram publicados num só volume intitulado Trilogia da cidade de K..
Kristof revela-nos uma história intensa e perturbadora. Há marcas de uma guerra que ocorre num país nunca nomeado, possivelmente na Hungria. No primeiro livro, também não temos indicação do nome das personagens, apenas sabemos que são dois meninos gémeos de nove anos. Com o desenvolvimento da narrativa, os gémeos vão entrando na adolescência e na vida adulta.

Num ambiente de guerra, há naturalmente privações, separações, exílio, sofrimento, mortes. E é pelo olhar inocente e cruel dos gémeos que vamos acompanhar muitas peripécias de luta pela sobrevivência que vão travar com a avó, conhecida na povoação pela “bruxa”, que os maltrata física e psicologicamente e os priva da escola e do conforto de um lar. Inteligentes, aprendem, com persistência, estratégias de enfrentar todas as crueldades a que são sujeitos. Acabam por criar situações absurdas e chocantes, não muito próprias para crianças.

A narração no primeiro livro, Caderno Grande, é feita integralmente na primeira pessoa do plural “nós”. Como se de uma única pessoa se tratasse, ou como se os dois funcionassem em uníssimo, em franca harmonia. Nesse caderno decidem escrever, apenas, as descrições dos objectos, dos seres humanos e deles próprios e evitar a utilização de palavras que definem sentimentos, palavras subjectivas.

No segundo livro, A Prova, há uma separação voluntária dos gémeos, Klaus e Lukas (aqui já nomeados), ou Lucas e Claus. Klaus, agora com 15 anos, decide separar-se do irmão e atravessar a fronteira para o país vizinho. Lukas, num período de pós-guerra, ainda com insurreições, narra-nos as suas vivências, os seus relacionamentos. Há momentos e relações ambíguos, surgem novas personagens, novas histórias encaixadas.

No terceiro livro, A Terceira Mentira, passados trinta anos, reaparece Klaus com uma história construída com fragilidades e contradições, o que levanta muitas dúvidas ao leitor sobre a veracidade das histórias. As duas partes que o compõem são narradas por cada um dos gémeos e tudo muda, de novo. Afinal, é tudo mentira? A metáfora do jogo de espelhos encaixa na perfeição, a história vai alterando ao sabor do narrador.

À medida que avançamos na leitura dos três livros, intuímos que a autora baralha as informações. Tal como os nomes se confundem, (anagramas), as memórias de cada um também se revelam desfocadas e contraditórias. A ambiguidade vai num crescendo e duvidamos da existência de um dos gémeos. Ao intitular o último livro com A Terceira Mentira, a autora confirma, ou não, a realidade da história. Se, neste livro, estamos perante uma terceira mentira, significa que os dois anteriores também o são? Afinal, há dois gémeos? Há só um? E qual deles? Quem é o narrador? As personagens do primeiro livro existiram de facto como foi narrado ou desempenharam outros papéis? Podemos confiar num narrador infantil que viveu traumas de abandono? Estamos perante delírios de um idoso ou meros exercícios de escrita? Tantas dúvidas que nos assolam! Estas e outras tantas!

Penso que com esta questão, a autora pretende reflectir sobre a perda de identidade, a manipulação da verdade veiculada por regimes autoritários, a perda de memória marcada por circunstâncias de guerra, de sofrimento, de destruição, em suma na fragilidade da verdade.

Esta trilogia escrita numa linguagem simples, directa, seca e dura, com diálogos curtos, por vezes pincelados de humor negro, e muito objectivos, no início, vão ganhando subjectividade e emotividade, compõe uma obra fabulosa que muito deve à sua originalidade na criação de um imbróglio que baralha por completo o leitor. Esta abordagem, de frieza calculada, torna a narrativa ainda mais impactante. A eliminação de qualquer excesso emocional, transfere para o leitor a interpretação dos factos.
Realidade e Ficção mesclam-se na perfeição. A relação dos irmãos é um reflexo da dualidade (o tal jogo de espelhos) presente em toda a obra: realidade versus ficção, verdade versus mentira, identidade versus anonimato.
Agota Kristof que nasceu na Hungria tendo deixado o país na sequência da repressão soviética que se seguiu à Revolução Húngara de 1956, acaba por expor a sua própria experiência e constrói essa dinâmica de forma magistral, deixando o leitor imerso num universo de incertezas e emoções intensas.

Uma última questão que me surge enquanto finalizo este texto. No título Trilogia da Cidade de K., mantém-se a ambiguidade que já referi. Que pode significar K. ? São várias as possibilidades: Kristof?, Klaus?, Köszeg? a cidade onde a autora se encontra sepultada na Hungria? Outra possibilidade?

Convido-vos a embrenharem-se na leitura desta obra magnífica.


09 abril, 2025

𝑨 𝑪𝒆𝒈𝒖𝒆𝒊𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝑹𝒊𝒐, de Mia Couto

 


Autor: Mia Couto
Título: A Cegueira do Rio
N.º de páginas: 325
Editora: Caminho
Edição: Outubro 2024
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3628)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


A Cegueira do Rio é um romance que recupera um facto histórico em África, em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial. Esse facto trata-se de um incidente que ocorreu numa aldeia na fronteira entre a Tanzânia e Niassa, em que centenas pessoas foram assassinadas pelo exército alemão que colonizava a África Oriental Alemã, a atual Tanzânia, após uma revolta que ficou conhecida como Maji-Maji.
A narrativa vai alternar entre um narrador principal e múltiplas vozes, na primeira pessoa, fixando, assim, a história de um país sem a amarrar a uma única perspectiva.

O livro estabelece uma relação de memória com a escrita, na medida em que é importante lutar contra o esquecimento (recordar para não esquecer); explora temas como a identidade e o colonialismo; mescla sagrado e profano. O carácter distópico presente na “agrafia que se convertera numa epidemia planetária” (p.281) e que impedia os brancos de escrever, cria uma atmosfera ilusória e permite atribuir às personagens femininas um poder e uma sensibilidade únicos.
“ Fomos nós, mulheres, que sustentámos as nossas aldeias. Os homens foram levados, a maior parte deles nunca mais regressou. (…) Queremos que vás [Aluzi Msafiri] ao palácio. E ensines esses brancos a escrever (…) se estiverem cansados que deixem por escrito uma única palavra. Essa palavra é «desculpa». Depois os portugueses que peguem nas coisas deles e se metam num barco.” (pp. 312 e 313)

O papel da mulher, centrado na profetiza Aluzi Msafiri, é simbólico e reflecte questões de identidade, resistência e opressão. Como guardiã da história e das tradições, ela representa a sabedoria ancestral e a resiliência perante as adversidades, questiona as estruturas de poder e revela as fragilidades do homem, marcadas pela violência e pela imposição da autoridade. É recorrente, na obra de Mia Couto, o protagonismo feminino como agente de resistência e de mudança.

A escrita de Mia Couto é poética e policromática com laivos de realismo mágico onde o passado e o presente se entretecem de forma fluida. O recurso a provérbios e a uma narrativa fragmentada, dita a várias vozes, traduz a sabedoria ancestral tão própria da filosofia africana e garante a pluralidade de opiniões e saberes.

Mia Couto é um dos meus escritores de eleição. Recomendo muito a leitura dos seus livros. Mia tem uma maneira muito própria de olhar o mundo. E a sua poesia, seja em verso ou em prosa, é uma ferramenta fabulosa e única para o descrever.


06 abril, 2025

𝑭𝒍𝒐𝒓𝒃𝒆𝒍𝒂 𝑬𝒔𝒑𝒂𝒏𝒄𝒂, de Agustina Bessa Luís



Autora: Agustina Bessa Luís
Título: Florbela Espanca
N.º de páginas: 231
Editora: Guimarães Editores
Edição: Dezembro 1984
Classificação: Biografia
N.º de Registo: (3661)
Contém: Álbum de Retratos e uma Antologia com 6 cartas (pp. 187-203),  35 sonetos (pp. 204-227) e uma Cronologia (pp. 229-231)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐




Na biografia de Florbela Espanca (1894-1930) Agustina Bessa-Luís combina elementos biográficos e ficcionais para criar múltiplas interpretações de Florbela, rompendo com a lógica convencional do género biográfico. Numa abordagem criativa e inovadora que mescla romance e biografia, a autora desmistifica a figura da poetisa, inserindo-a no contexto social da época.

Sabemos que a escrita de Agustina é rica e densa, singular e introspectiva, na medida em que entretece a análise psicológica, a reflexão filosófica e a vivência social. O recurso a um vocabulário erudito e a metáforas complexas que evocam emoções intensas e conferem imagens poderosas, obriga o leitor a uma redobrada atenção.

Com estas ferramentas, que habilmente domina, Agustina capta a essência da sua biografada, pondo em relevo a sua feminilidade e explorando temas como a sua identidade, a inquietação existencial, o erotismo, os dilemas morais. Sabiamente, transforma pequenos episódios familiares, culturais e sociais em reflexões sobre a humanidade, a cultura, a sociedade.

Ao longo do seu texto, dividido em três partes, Agustina não se limita a narrar factos cronologicamente, ela baralha-os, repete-os com novas interpretações e novos significados históricos, sociais e literários. Quem conhece a obra de Agustina já se habituou ao percurso labiríntico das suas narrativas. E, nesta obra, o carácter labiríntico e circular, porque repetitivo, está bem patente.

Ela insere a poesia de Florbela como parte integrante da narrativa biográfica e oferece-nos, assim, uma visão dupla, a da mulher e a da poetisa. “Primitiva, Florbela tenta obter, por intermédio do elemento mágico da poesia, protecção contra o mundo exterior.” (p. 20). Um mundo ainda marcado por preconceitos sociais e de interdições impostas às mulheres.

É uma leitura aprazível e enriquecedora que nos revela uma poetisa genial e ousada e uma mulher melancólica, triste, narcísica, insubmissa, frágil e muito depressiva, sucessivamente “marcada pela decepção parental, a decepção social e a decepção literária.” (p. 142)

Recomendo a descoberta desta nossa poetisa sob o olhar muito particular e astuto de Agustina Bessa Luís.
Esta edição, de 1984, contém, ainda, um Álbum de Retratos e uma Antologia com 6 cartas (pp. 187-203), 35 sonetos (pp. 204-227) e uma Cronologia (pp. 229-231).