06 abril, 2025

𝑭𝒍𝒐𝒓𝒃𝒆𝒍𝒂 𝑬𝒔𝒑𝒂𝒏𝒄𝒂, de Agustina Bessa Luís



Autora: Agustina Bessa Luís
Título: Florbela Espanca
N.º de páginas: 231
Editora: Guimarães Editores
Edição: Dezembro 1984
Classificação: Biografia
N.º de Registo: (3661)
Contém: Álbum de Retratos e uma Antologia com 6 cartas (pp. 187-203),  35 sonetos (pp. 204-227) e uma Cronologia (pp. 229-231)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐




Na biografia de Florbela Espanca (1894-1930) Agustina Bessa-Luís combina elementos biográficos e ficcionais para criar múltiplas interpretações de Florbela, rompendo com a lógica convencional do género biográfico. Numa abordagem criativa e inovadora que mescla romance e biografia, a autora desmistifica a figura da poetisa, inserindo-a no contexto social da época.

Sabemos que a escrita de Agustina é rica e densa, singular e introspectiva, na medida em que entretece a análise psicológica, a reflexão filosófica e a vivência social. O recurso a um vocabulário erudito e a metáforas complexas que evocam emoções intensas e conferem imagens poderosas, obriga o leitor a uma redobrada atenção.

Com estas ferramentas, que habilmente domina, Agustina capta a essência da sua biografada, pondo em relevo a sua feminilidade e explorando temas como a sua identidade, a inquietação existencial, o erotismo, os dilemas morais. Sabiamente, transforma pequenos episódios familiares, culturais e sociais em reflexões sobre a humanidade, a cultura, a sociedade.

Ao longo do seu texto, dividido em três partes, Agustina não se limita a narrar factos cronologicamente, ela baralha-os, repete-os com novas interpretações e novos significados históricos, sociais e literários. Quem conhece a obra de Agustina já se habituou ao percurso labiríntico das suas narrativas. E, nesta obra, o carácter labiríntico e circular, porque repetitivo, está bem patente.

Ela insere a poesia de Florbela como parte integrante da narrativa biográfica e oferece-nos, assim, uma visão dupla, a da mulher e a da poetisa. “Primitiva, Florbela tenta obter, por intermédio do elemento mágico da poesia, protecção contra o mundo exterior.” (p. 20). Um mundo ainda marcado por preconceitos sociais e de interdições impostas às mulheres.

É uma leitura aprazível e enriquecedora que nos revela uma poetisa genial e ousada e uma mulher melancólica, triste, narcísica, insubmissa, frágil e muito depressiva, sucessivamente “marcada pela decepção parental, a decepção social e a decepção literária.” (p. 142)

Recomendo a descoberta desta nossa poetisa sob o olhar muito particular e astuto de Agustina Bessa Luís.
Esta edição, de 1984, contém, ainda, um Álbum de Retratos e uma Antologia com 6 cartas (pp. 187-203), 35 sonetos (pp. 204-227) e uma Cronologia (pp. 229-231).



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