Autora: Tânia Ganho
Título: O Meu Pai Voava
N.º de páginas: 189
Editora: D. Quixote
Edição: Julho 2024
Classificação: Memórias
N.º de Registo: (3619)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐
Em O Meu Pai Voava, Tânia Ganho entretece pensamentos, memórias e desassossegos. Após a morte de seu pai, naturalmente, sentiu necessidade de manifestar os sentimentos e as dúvidas que a assolaram num momento de profunda tristeza. Foi na escrita que encontrou a forma de falar do luto e de glorificar o pai. Tânia Ganho, logo no início, informa o leitor que escreve este livro para se encontrar, para recalibrar a sua vida, para enfrentar a perda. “Não sei para quem escrevo estas palavras. Para ele, talvez. Para a minha mãe. É aqui que faço o luto. Desde que morreu, escrevo sem parar. Escrevo para recuperar o fulgor com que ele viveu, porque tudo se me afigura triste e ermo.” (p. 11)
Este pequeno livro é de uma sensibilidade extrema. Tânia Ganho cristaliza com imenso carinho episódios que viveram juntos. Recupera memórias, recordações; retrata o amor que os unia; narra episódios vividos em família, as conversas mantidas; fala da doença do pai, da perda de lucidez, da perda do sorriso do olhar, da perda das palavras, da sua “desmemória”; fala da morte, do velório; cita os livros que leu e os filmes que viu e que a ajudaram a ultrapassar a dor, mas não sabe a última palavra que o pai lhe disse. A última conversa que tiveram. A última vez que o pai a reconheceu.
Quem convive com doentes com Alzheimer sabe que é assim. Também eu deixei de saber o dia em que o meu pai deixou de me reconhecer, de falar comigo, de me dar um beijo. Por isso, este livro fez-me reviver o meu passado. Foi um submergir, de novo, à superfície. Foi um reabrir o que considerava há muito trancado. Pela mão da Tânia e pelas suas palavras recuperei momentos felizes da minha infância, da minha vida. Mais duro foi reacender passagens da doença, o fim de um tempo que acabou por arrastar a minha mãe.
Recomendo a leitura deste livro belo e corajoso. Há momentos que nos fazem sorrir, há outros mais dolorosos. A escrita, rigorosa no uso das palavras, revela, como já referi, uma tal sensibilidade que torna belos os momentos de tristeza. É, sem dúvida, uma bonita homenagem ao seu pai e um legado maravilhoso que partilha com o seu filho.
“A morte devolve-me o pai herói que, durante anos, a doença esbateu.”
(p. 147). É isto.
(p. 147). É isto.
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