31 dezembro, 2024

Adília Lopes | 1960 - 2024


                                                                     radionova.fm


Só gosto das pessoas boas
quero lá saber que sejam inteligentes artistas sexy
sei lá o quê
se não são boas pessoas
não prestam

_______________


45 Anos

É tempo
de regressar
a casa
A poesia
não está
na rua


Adília Lopes, pseudónimo de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira (Lisboa, 20 de abril de 1960 − 30 de dezembro de 2024)
.


Feliz Ano 2025

 


30 dezembro, 2024

GoodReads 2024

 

Para conhecer todos os livros lidos:  Graciosa’s Year in Books | Goodreads








Leituras | 12 meses

 

𝑩𝒓𝒆𝒗𝒊á𝒓𝒊𝒐 𝒅𝒂𝒔 𝑨𝒍𝒎𝒂𝒔, de Joaquim Mestre



Autor: Joaquim Mestre
Título: Breviário das Almas
N.º de páginas: 105
Editora: Oficina do Livro
Edição: Fevereiro 2009
Classificação: Contos
N.º de Registo: (3597)



OPINIÃO ⭐⭐⭐



Este Breviário das Almas são relatos de vidas difíceis, duras do meio rural alentejano, algarvio ou de qualquer outra região do nosso país. Outrora, a “vida era mesmo assim”. A da mulher era tratar da lida da casa, dos filhos, dos animais, do… ; a do homem era tratar do campo, caçar com os amigos, beber, … Encontramos o peso de um trabalho quotidiano que embrutece, oprime e isola. “ (…) e no outro dia e todos os dias, fazer a lida da casa e “ (p. 23)
São relatos tristes onde a morte é uma constante seja ela natural, desafiada ou causada. Dá-se relevo às crenças, aos santos; vive-se enclausurado na ignorância; acredita-se no destino; espera-se pela morte.

Mestre retrata muito bem o ambiente e o linguajar rurais. Numa escrita simples, fluente e intensa, os seus textos, alguns bem curtos, aproximam-se do neo-realismo que tanto aprecio. Fez-me lembrar a prosa de Manuel da Fonseca tão representativa da vida dura dos alentejanos e entranhada de crítica social e política.

Breviário das Almas contém no seu título o essencial do livro, isto é, o relato breve da vida de cada personagem que perturba o leitor ao (re)ver neles (nos textos) e nelas (nas almas) o atraso do país rural que encerra tristezas, solidão e abandono.

Joaquim Mestre publicou este livro em 2009. Os seus textos não estão datados, pelo que quero acreditar que se reportem a tempos anteriores e que o presente do meio rural seja bem mais risonho para as mulheres e para os homens que nele vivem.


28 dezembro, 2024

𝑪𝒐𝒓𝒂çã𝒐 𝒅𝒆 𝒑á𝒔𝒔𝒂𝒓𝒐, de Mar Benegas e Rachel Caiano



Autora: Mar Benegas
Título: Coração de pássaro
Tradutora: Maria João Moreno
Ilustradora: Rachel Caiano
N.º de páginas: --
Editora: Akiara Books
Edição: Maio 2020
Classificação: Infantil
N.º de Registo: (3500)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


𝑪𝒐𝒓𝒂çã𝒐 𝒅𝒆 𝒑á𝒔𝒔𝒂𝒓𝒐 é um livro maravilhoso. O texto melodioso e poético congraça com o traço subtil e as cores sensíveis (apenas três: preto, azul e vermelho) das ilustrações. É um deslumbramento visual. Confesso que tenho um fraquinho pelas ilustrações da Raquel Caiano. Acho as figuras femininas, encantadoras. E, neste livro, a representação da menina confirma o meu sentimento.
Nana, a menina que nasceu junto ao mar brincava com as palavras, fazia perguntas difíceis “Quem é que pinta o céu, à tarde?” e via o que quase ninguém vê. Nana tinha um amigo, Martim, a quem confiava os seus segredos e os tesouros que encontrava na praia e que segundo a professora “tudo isso se chama poesia.”
Mais tarde, os dois amigos separaram-se. Nana foi viver para a cidade, mas Martim manteve o hábito de recolher os “tesouros e guardo-os cuidadosamente. Para não se perderem e a poesia continuar aqui, quando voltares.” Deixo-vos descobrir o que aconteceu.

Esta história belíssima, para todas as idades, transborda poesia e amizade e amor. É o “conto dos segredos e da poesia” que convida o leitor a experienciar  o mundo mágico dos poetas.



27 dezembro, 2024

𝑽𝒐𝒍𝒕𝒂𝒓 𝒅𝒐 𝑩𝒐𝒔𝒒𝒖𝒆, de Maddalena Vaglio Tanet

 

Autora: Maddalena Vaglio Tanet
Título: Voltar do Bosque
Tradutora: Ana Maria Pereirinha
N.º de páginas: 263
Editora: D. Quixote
Edição: Abril 2014
Classificação: Romance
N.º de Registo: (--)


OPINIÃO ⭐⭐⭐


Baseado numa história real, este romance arrasta o leitor para o interior de um bosque que metaforicamente representa a perda, o abandono e o refúgio libertador . O enredo é doloroso, triste, melancólico e, simultaneamente, poético e esperançoso.

A acção gravita à volta de uma professora que, por uma razão que não vou desvendar, decide desaparecer e esconder-se num bosque. Esta atitude vai alvoroçar e preocupar toda a população de uma aldeia italiana e, vai, sobretudo, envolver directamente uma criança, Martino. Saberá ele manter-se fiel à promessa que fez?

O acto da professora vai levantar ao leitor inúmeras questões sobre a perda de uma pessoa, a culpa, o luto, a solidão, a lealdade, a sinceridade e, por que não, a amizade.

A escrita delicada de Tanet requer uma leitura lenta, que assimile toda a informação presente nas descrições da natureza e das personagens; que se aproprie de todos os detalhes desconcertantes e que capte as emoções profundas vividas nos momentos de dor e, também, resgatadas por via das memórias, dos sonhos, dos pensamentos.
No final, a esperança e a amizade sobrepõem-se à dor e, daí, intuímos que há uma relação intrínseca e salvífica entre a natureza e o ser humano.

Este é o primeiro livro de Maddalena Vaglio Tanet. Vou ficar atenta a novas publicações.


25 dezembro, 2024

𝑪𝒂𝒎õ𝒆𝒔 𝑪𝒐𝒏𝒔𝒆𝒈𝒖𝒊𝒖 𝑬𝒔𝒄𝒓𝒆𝒗𝒆𝒓 𝑴𝒖𝒊𝒕𝒐 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑸𝒖𝒆𝒎 𝑺ó 𝑻𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑼𝒎 𝑶𝒍𝒉𝒐, Lúcia Vaz Pedro

 


Autora: Lúcia Vaz Pedro
Título: Camões Conseguiu Escrever Muito...
N.º de páginas: 4285
Editora: Manuscrito
Edição: Setembro 2019
Classificação: Não-ficção
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐


Lúcia Vaz Pedro, Professora de Português do 3.º ciclo e ensino secundário compilou neste livro perguntas, comentários, respostas e erros de alunos que foi registando ao longo da sua carreira.

São muitos os professores que registam os seus “tesourinhos” para mais tarde recordar. Esta professora entendeu que seria uma mais-valia, e ainda bem que o fez, publicar um livro com estas preciosidades e acrescentar a devida correcção e/ou cenários de resposta, a explicação de cada erro e informação complementar quer gramatical quer literária – “Vamos aprender”.

São múltiplos os comentários, respostas e perguntas caricatos e até despropositados, por desconhecimento total dos conteúdos, das regras, do assunto, por distracção, por má interpretação do solicitado. Porém, muitos revelam uma enorme capacidade criativa dos alunos.

Lúcia Vaz Pedro considera, e bem, que rir “é o melhor remédio”, tal como Gil Vicente apregoava “ridendo castigat mores”, a professora não pretende “castigar”, mas sim ensinar a bem escrever e falar, recorrendo ao riso e ao sentido de humor. Afinal, a brincar também se aprende. E bem, acrescento eu.





22 dezembro, 2024

𝑨 𝑩𝒓𝒆𝒗𝒆 𝑽𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝑭𝒍𝒐𝒓𝒆𝒔, de Valérie Perrin



Autora: Valérie Perrin
Título: A Breve Vida das Flores
Tradutora: M.ª de Fátima Carmo
N.º de páginas: 444
Editora: Editorial Presença 
Edição: Fevereiro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (-)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐




Decidi ler A Breve Vida das Flores por ser, talvez, um dos livros mais elogiados do momento. Apesar disso, não criei grandes expectativas porque, quando todos falam muito bem de um livro, eu desconfio. No início, a história não me agarrou, estive quase a desistir. Li outro nos entretantos, e voltei a pegar-lhe por sugestão de outras leitoras por quem tenho consideração.

À medida que avançava na leitura fui conquistada pela escrita poética pincelada de algum humor e pela personagem feminina, Violette Toussaint, que se revela generosa, trabalhadora, sensível e inteligente; que prefere a vida à morte, o sol à sombra; que adora tratar do seu jardim e das suas flores e que se veste de cores vivas. Violette conquista-nos pela sua maneira de ser e de encarar a dor e a tristeza; pelo carinho e cuidado que dedica aos outros.
“Saboreio a vida, bebo-a em pequenos goles como chá de jasmim com mel. (…) Eu estava muito infeliz; aniquilada, mesmo. Inexistente. Vazia. (…) Contudo, como nunca tive gosto pela infelicidade, decidi que isso não iria durar.” (pp. 10 e 11)

A narrativa oscila entre passado e presente, e os acontecimentos são desvendados a conta-gotas pelo viés de memórias, de conversas, de cartas e de diários.

Destaco os momentos de introspecção que evidenciam a solidão e a tristeza, mas também momentos de partilha, de apoio que relevam a amizade, o amor, a compaixão e a perseverança.
Valérie Perrin foi brilhante ao colocar grande parte da acção num cemitério. Aí, coabitam a vida e a morte de pessoas, de flores, de animais; surgem encontros improváveis e inesperados; ocorrem vivências tristes e hilariantes. É o local ideal para servir o seu propósito, isto é, de levar o leitor a reflectir sobre a vida e a morte, sobre a perda e o luto, sobre a beleza do mundo.

Até aqui, a minha apreciação é positiva e reitero que gostei imenso do enredo que envolve a protagonista. Porém, considero que a partir de um certo momento começam a surgir muitas histórias, muitas personagens que, na minha opinião, só servem para desviar o leitor da acção principal. A narrativa cai um pouco na banalidade e torna-se, desta forma, enfastiante. Por vezes, menos é mais. Penso que se tivesse omitido alguns episódios, o livro ficaria ainda melhor.




15 dezembro, 2024

𝑶 𝑴𝒆𝒖 𝑷𝒂𝒊 𝑽𝒐𝒂𝒗𝒂, de Tânia Ganho



Autora: Tânia Ganho
Título: O Meu Pai Voava
N.º de páginas: 189
Editora: D. Quixote
Edição: Julho 2024
Classificação: Memórias
N.º de Registo: (3619)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Em O Meu Pai Voava, Tânia Ganho entretece pensamentos, memórias e desassossegos. Após a morte de seu pai, naturalmente, sentiu necessidade de manifestar os sentimentos e as dúvidas que a assolaram num momento de profunda tristeza. Foi na escrita que encontrou a forma de falar do luto e de glorificar o pai. Tânia Ganho, logo no início, informa o leitor que escreve este livro para se encontrar, para recalibrar a sua vida, para enfrentar a perda. “Não sei para quem escrevo estas palavras. Para ele, talvez. Para a minha mãe. É aqui que faço o luto. Desde que morreu, escrevo sem parar. Escrevo para recuperar o fulgor com que ele viveu, porque tudo se me afigura triste e ermo.” (p. 11)

Este pequeno livro é de uma sensibilidade extrema. Tânia Ganho cristaliza com imenso carinho episódios que viveram juntos. Recupera memórias, recordações; retrata o amor que os unia; narra episódios vividos em família, as conversas mantidas; fala da doença do pai, da perda de lucidez, da perda do sorriso do olhar, da perda das palavras, da sua “desmemória”; fala da morte, do velório; cita os livros que leu e os filmes que viu e que a ajudaram a ultrapassar a dor, mas não sabe a última palavra que o pai lhe disse. A última conversa que tiveram. A última vez que o pai a reconheceu.

Quem convive com doentes com Alzheimer sabe que é assim. Também eu deixei de saber o dia em que o meu pai deixou de me reconhecer, de falar comigo, de me dar um beijo. Por isso, este livro fez-me reviver o meu passado. Foi um submergir, de novo, à superfície. Foi um reabrir o que considerava há muito trancado. Pela mão da Tânia e pelas suas palavras recuperei momentos felizes da minha infância, da minha vida. Mais duro foi reacender passagens da doença, o fim de um tempo que acabou por arrastar a minha mãe.

Recomendo a leitura deste livro belo e corajoso. Há momentos que nos fazem sorrir, há outros mais dolorosos. A escrita, rigorosa no uso das palavras, revela, como já referi, uma tal sensibilidade que torna belos os momentos de tristeza. É, sem dúvida, uma bonita homenagem ao seu pai e um legado maravilhoso que partilha com o seu filho.
“A morte devolve-me o pai herói que, durante anos, a doença esbateu.”
(p. 147). É isto.

                           

11 dezembro, 2024

𝑮𝒐𝒐𝒅𝒃𝒚𝒆, 𝑪𝒐𝒍𝒖𝒎𝒃𝒖𝒔 𝒆 𝒄𝒊𝒏𝒄𝒐 𝒄𝒐𝒏𝒕𝒐𝒔, de Philip Roth

 


Autor: Philip Roth
Título: Goodbye, Columbus e cinco contos
Tradutor: Francisco Agarez
N.º de páginas: 293
Editora: D. Quixote
Edição(4.ª): Maio 2012
Classificação: Novela e contos
N.º de Registo: (3521)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


O livro de Philip Roth é composto por uma novela e cinco contos. Todos incidem sobre aspectos da cultura, da religião e modos de vida dos judeus nos Estados Unidos. Neste seu livro de estreia, Roth já nos reverbera com o seu humor corrosivo tão presente em toda a sua obra.
Pelo viés da observação e com recurso a uma crítica humorada, Roth expõe de forma exímia os dogmas e os costumes do povo judaico.

Na novela Adeus, Columbus, Roth com uma escrita despojada entra no universo delicado de um primeiro amor entre Niel Klugman, um bibliotecário sem grandes recursos económicos, e Brenda Patimkin, uma rapariga de família riquíssima.
A narrativa, que se afasta da lamechice, do sentimentalismo barato, seduz de imediato o leitor que se deixa envolver pela subtileza da mensagem genuína e sensual da primeira experiência amorosa.

Os cinco contos que se seguem são uma sátira aos dogmas religiosos. Narram histórias intrigantes com consequências trágicas e finais absurdos. Roth recorre à ironia e à sátira para reflectir a respeito da fé e da tradição judaicas beliscadas pela civilização moderna.

Para quem conhece a obra de Roth e só agora lê este livro, percebe que o autor já no seu início dominava a arte da escrita. É um exercício interessante ler primeiro as obras de um autor consagrado e maduro e só depois descobrir a sua primeira obra. Não fiquei decepcionada. Philip Roth é um dos meus escritores de eleição.


08 dezembro, 2024

Notre-Dame de Paris

 

                                                    Foto: Bernat Armangue/AP Photo


Um dos maiores símbolos de Paris, a Catedral de Notre-Dame reabriu ao público, totalmente restaurada e ainda mais resplandecente, cinco anos após um incêndio devastador (15 de abril 2019). A cerimónia solene transmitida pela televisão francesa -France TV - mostrou ao mundo a nova imagem da Catedral. 

Tenho urgência em agendar uma visita à capital Francesa. 

___________

Não resisto em partilhar  uma das mais belas canções da música francesa dedicada à Catedral Notre-Dame .


Copyright belongs to owners)




Letra da canção:

Belle
C'est un mot qu'on dirait inventé pour elle
Quand elle danse et qu'elle met son corps à jour, tel
Un oiseau qui étend ses ailes pour s'envoler
Alors je sens l'enfer s'ouvrir sous mes pieds
J'ai posé mes yeux sous sa robe de gitane
À quoi me sert encore de prier Notre-Dame?
Quel
Est celui qui lui jettera la première pierre?
Celui-là ne mérite pas d'être sur terre
Ô Lucifer
Oh laisse-moi rien qu'une fois
Glisser mes doigts dans les cheveux d'Esméralda

Belle
Est-ce le diable qui s'est incarné en elle
Pour détourner mes yeux du Dieu éternel?
Qui a mis dans mon être ce désir charnel
Pour m'empêcher de regarder vers le Ciel?
Elle porte en elle le péché originel
La désirer fait-il de moi un criminel?
Celle
Qu'on prenait pour une fille de joie, une fille de rien
Semble soudain porter la croix du genre humain
Ô Notre-Dame
Oh laisse-moi rien qu'une fois
Pousser la porte du jardin d'Esméralda

Belle
Malgré ses grands yeux noirs qui vous ensorcellent
La demoiselle serait-elle encore pucelle?
Quand ses mouvements me font voir monts et merveilles
Sous son jupon aux couleurs de l'arc-en-ciel
Ma dulcinée laissez-moi vous être infidèle
Avant de vous avoir mené jusqu'à l'autel
Quel
Est l'homme qui détournerait son regard d'elle
Sous peine d'être changé en statue de sel
Ô Fleur-de-Lys
Je ne suis pas homme de foi
J'irai cueillir la fleur d'amour d'Esméralda

J'ai posé mes yeux sous sa robe de gitane
À quoi me sert encore de prier Notre-Dame?
Quel
Est celui qui lui jettera la première pierre
Celui-là ne mérite pas d'être sur terre
Ô Lucifer
Oh laisse-moi rien qu'une fois
Glisser mes doigts dans les cheveux d'Esméralda

Esméralda



06 dezembro, 2024

𝑴𝒐𝒖𝒔𝒄𝒉𝒊, 𝑶 𝑮𝒂𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑨𝒏𝒏𝒆 𝑭𝒓𝒂𝒏𝒌, de José Jorge Letria com ilustrações de Danuta Wojciechowska

 



Autor: José Jorge Letria
Título: Mouschi, O Gato de Anne Frank
Ilustradora: Danuta Wojciechowska
N.º de páginas: 36
Editora: Edições ASA
Edição (2.ª): Setembro 2002
Classificação: Infantil/Juvenil
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



José Jorge Letria dá voz a um personagem muito especial, o gato Mouschi, para nos revelar a história angustiante da família de Anne Frank que se refugiou num anexo, de um sótão, durante dois anos.

A história narrada pelo gato, que esteve sempre com a família no anexo, centra-se, sobretudo na sua relação com a menina Anne Frank. É pelo seu sentir que acompanhamos o crescimento de Anne, ao longo destes dias: as suas angústias, a sua paixão pela escrita, registada no seu diário, o seu amor por Peter, os desentendimentos com a mãe, os seus sonhos, a sua crescente tristeza, e a sua captura por “cinco homens, um com a farda da polícia alemã”. É ainda pela sua voz que tomamos conhecimento que só o pai de Anne, sobrevive.

Quem conhece O Diário, de Anne Frank, já não é surpreendido pelo trágico final da família. Contudo, este pequeno livro, tão bem ilustrado pela Danuta Wojciechowska, é uma excelente abordagem, para iniciar os mais jovens aos horrores do holocausto, à perseguição dos judeus, ao extermínio nos campos de concentração.

Mouschi é um gato sensível, muito curioso e carinhoso que tudo faz para tornar os dias de Anne menos tristes, mas acaba por confessar que não compreende certas situações:
“Eu, como era gato, e ainda por cima um gato jovem, tinha dificuldade em compreender que aquela menina tinha perdido tudo o que contara para ela - os amigos, a escola, o sonho, a liberdade - e que aquele diário era um postigo que se abria para o exterior e a iluminava por dentro como uma vela que o vento não conseguia apagar ou uma estrela distante mas infinitamente amiga” (p. 12)

No final do livro, Mouschi fala-nos um pouco de si, da libertação de Amsterdão e termina a história com uma mensagem muito linda, carregada de simbolismo e actualíssima.

“Uma coisa é certa. Passaram tantos anos e eu, no pequeno céu dos gatos mortos de tristeza e solidão, nunca mais me esqueci da minha querida Anne Frank, nem nunca mais cheguei a perceber o que pode levar seres humanos a serem por vezes tão cruéis e tão violentos.
Se eu soubesse chorar, mesmo transformado em personagem deste livrinho de memórias, teria sempre duas lágrimas guardadas: uma para Anne e outra para o meu amor por ela. Quem matou esta menina merece ser castigado eternamente por todas as estrelas que há no céu.” (p. 36)

Recomendo este e outros livros que tratem esta temática. É importante que a memória permaneça viva. Não podemos ignorar o passado e permitir que seres humanos cruéis comandem a vida de pessoas inocentes. Infelizmente, o passado está, de novo, bem presente e, o céu continua a receber “estrelas”.