Autor: José Jorge Letria
Título: Mouschi, O Gato de Anne Frank
Ilustradora: Danuta Wojciechowska
N.º de páginas: 36
Editora: Edições ASA
Edição (2.ª): Setembro 2002
Classificação: Infantil/Juvenil
N.º de Registo: (BE)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐
José Jorge Letria dá voz a um personagem muito especial, o gato Mouschi, para nos revelar a história angustiante da família de Anne Frank que se refugiou num anexo, de um sótão, durante dois anos.
A história narrada pelo gato, que esteve sempre com a família no anexo, centra-se, sobretudo na sua relação com a menina Anne Frank. É pelo seu sentir que acompanhamos o crescimento de Anne, ao longo destes dias: as suas angústias, a sua paixão pela escrita, registada no seu diário, o seu amor por Peter, os desentendimentos com a mãe, os seus sonhos, a sua crescente tristeza, e a sua captura por “cinco homens, um com a farda da polícia alemã”. É ainda pela sua voz que tomamos conhecimento que só o pai de Anne, sobrevive.
Quem conhece O Diário, de Anne Frank, já não é surpreendido pelo trágico final da família. Contudo, este pequeno livro, tão bem ilustrado pela Danuta Wojciechowska, é uma excelente abordagem, para iniciar os mais jovens aos horrores do holocausto, à perseguição dos judeus, ao extermínio nos campos de concentração.
Mouschi é um gato sensível, muito curioso e carinhoso que tudo faz para tornar os dias de Anne menos tristes, mas acaba por confessar que não compreende certas situações:
“Eu, como era gato, e ainda por cima um gato jovem, tinha dificuldade em compreender que aquela menina tinha perdido tudo o que contara para ela - os amigos, a escola, o sonho, a liberdade - e que aquele diário era um postigo que se abria para o exterior e a iluminava por dentro como uma vela que o vento não conseguia apagar ou uma estrela distante mas infinitamente amiga” (p. 12)
No final do livro, Mouschi fala-nos um pouco de si, da libertação de Amsterdão e termina a história com uma mensagem muito linda, carregada de simbolismo e actualíssima.
“Uma coisa é certa. Passaram tantos anos e eu, no pequeno céu dos gatos mortos de tristeza e solidão, nunca mais me esqueci da minha querida Anne Frank, nem nunca mais cheguei a perceber o que pode levar seres humanos a serem por vezes tão cruéis e tão violentos.
Se eu soubesse chorar, mesmo transformado em personagem deste livrinho de memórias, teria sempre duas lágrimas guardadas: uma para Anne e outra para o meu amor por ela. Quem matou esta menina merece ser castigado eternamente por todas as estrelas que há no céu.” (p. 36)
Recomendo este e outros livros que tratem esta temática. É importante que a memória permaneça viva. Não podemos ignorar o passado e permitir que seres humanos cruéis comandem a vida de pessoas inocentes. Infelizmente, o passado está, de novo, bem presente e, o céu continua a receber “estrelas”.