12 maio, 2024

𝑷𝒂𝒖𝒍𝒂 𝑹𝒆𝒈𝒐 - 𝑨 𝑳𝒖𝒛 𝒆 𝒂 𝑺𝒐𝒎𝒃𝒓𝒂 - 𝑼𝒎𝒂 𝑭𝒐𝒓𝒎𝒂 𝒅𝒆 𝑶𝒍𝒉𝒂𝒓, de Cristina Carvalho

 


Autora: Cristina Carvalho
Título: Paula Rego - A Luz e a Sombra - Uma Forma de Olhar
N.º de páginas: 153
Editora: Relógio d'Água
Edição: Novembro 2023
Classificação: Biografia
N.º de Registo: (3511)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Gosto dos romances biográficos escritos por Cristina Carvalho. Já li alguns e tenho outros em lista de espera. Este, e, apesar de ser o último publicado, teve de ultrapassar os que aguardam pacientemente a sua hora. É que também gosto da obra da Paula Rego. E cada vez que tinha de escolher a próxima leitura, este piscava-me o olho.

Adorei. O facto de Cristina Carvalho colocar os seus biografados a narrar a sua própria vida resulta muito bem. Este não foge à regra. Há contudo intervenções da escritora que, em diálogo com a narradora, acrescenta informação, emite opinião. Gosto desta abordagem.

Ao longo da leitura, deixamo-nos iludir que é mesmo a pintora que nos narra a sua história. Há uma maior intimidade, diria, com o leitor. Acompanhamos as suas dúvidas, as suas angústias, a sua raiva, os seus medos de forma intensa, tal como ela os viveu. Aceitamos as suas explicações e compreendemos bem melhor a sua obra.

Outro aspecto que me agrada bastante é a proximidade que se adivinha entre a escritora e a pintora. Não sei se conviveram, nem é importante, mas fica a sensação de ambas terem muito em comum (a Ericeira, a frontalidade, a liberdade e a paixão que revelam naquilo que fazem - uma na escrita e a outra na pintura e nos desenhos). Por vezes, questionei-me se não era a vontade e o pensamento da própria escritora que estava a ler. E essa capacidade de confundir o leitor torna a sua escrita fascinante.
Através do relato da vida de Paula Rego, registamos, simultaneamente, a vida de um país e sobretudo a condição da mulher.
“Nesses quadros, nas gravuras que desenhei, em tudo, tudo o que fiz na minha Arte onde represento, na maior parte das vezes de forma grotesca e brutal, a vida tal e qual é: grotesca e brutal, ainda que tome, por vezes, aspectos de porcelana fina enfeitada de pechisbeques-pessoas, pechisbeques-coisas, tudo fugaz e com pouco ou nenhum significado, Porque, para mim, os grandes significados foram, são, tudo o que consegui imaginar e transportar para as minhas telas.
Está lá tudo.” (p. 11)

Depois desta leitura, resta-me admirar a sua obra (conheço pouco e de forma supérflua); tentar descobrir nela tudo o que nos foi revelado; captar os silêncios, os gritos de dor, a angústia da sua existência. Ficou claro e bem claro que Paula Rego só pinta e desenha o que quer e quando quer. “

Recomendo muito a leitura deste brilhante tributo à mulher, à mulher artista que foi, e ainda é, Paula Rego. Cristina Carvalho refere no final que este livro “ não pretende revelar a intimidade da artista”, apenas faculta algumas vivências que permitem ao leitor imaginar a vida da artista. E foi muito bem conseguido.



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