04 novembro, 2023

𝑶𝒏𝒅𝒆, de José Luís Peixoto

 



Autor: José Luís Peixoto
Título: Onde
N.º de páginas: 139
Editora: Quetzal
Edição: Julho  2022
Classificação: Roteiro literário
N.º de Registo: (3380)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Como classificar Onde? Um livro de crónicas, um guia de viagens, um texto poético? É uma mescla de tudo isso, é um roteiro literário já que versa por terras de Botto, Camões e Gil Vicente.

José Luís Peixoto a partir da Praça da República, centro do Sardoal e do mundo, convida o leitor a avançar pelas páginas do seu livro, pela sua geografia. E o leitor entusiasmado deixa-se conduzir pelas suas palavras poéticas.

São 139 páginas de textos breves que nos proporcionam a descoberta de igrejas, de fontes, de miradouros, de ruas, de árvores, de paisagem, de monumentos, de bibliotecas…. Para o leitor que já visitou Abrantes, Constância e Sardoal, esta viagem pode tornar-se num avivar de memórias, de recordações, mas pode também tornar-se num enorme lamento porque percebe que então, o seu olhar não captou a realidade existente no “cruzamento entre o tempo e o espaço” e que não “soube manobrar o olhar”, pelo que no final do livro, sente vontade de regressar com os olhos bem abertos, de seguir os passos e as palavras do autor, de apreender tudo de novo, de captar a essência de cada lugar e de terminar na Biblioteca Municipal de António Botto (inevitável) para sentir o seu olhar, para ser biblioteca:

“ A BIBLIOTECA ESTÁ A VER-TE. A partir das janelas abertas, esse olhar não te larga, fixa cada um dos teus movimentos, até os mais ínfimos: o peito a encher-se e a esvaziar-se, o ligeiro tremor com que te firmas nas pernas. Existes no olhar da biblioteca, da mesma maneira que estas palavras existem no teu olhar. (…) Mas agora estás aqui, és uma figura ao longe. A tua pele são as tuas paredes, como as paredes da biblioteca são a sua pele. As prateleiras de livros são as suas veias e artérias. Através delas, fluem palavras como sangue ou seiva, são a transcrição literal dos teus pensamentos. A biblioteca está a ler-te. Tu és a biblioteca da biblioteca. “ (pp. 85. 86)

Em jeito de conclusão, Onde é um livro diferente, que se pode ler num ápice. Contudo, recomendo que se leia com vagar, que se aprecie a escrita simplesmente poética porque “PRECISAMOS DAS BORBOLETAS para falarmos de delicadeza. Sem elas, seria muito mais difícil escolher palavras finas e raras, prontas a pousar lentamente nos ouvidos de quem as escute, nos olhos de quem as leia.” (p. 83) e, também, porque “às vezes, a poesia é a loucura arrumada em versos, palavras que se parecem com os seus sinónimos mas que, ao serem lidas, nos puxam para um lugar com outra lógica.” (p. 87)

É isto! É poesia! São palavras belas, são borboletas!

A certa altura, JLP escreve “Sorrir foi a lição mais importante.” Eu sorri bastante.





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