Autor: Philip Roth
Título: O Professor de Desejo
Tradutor: Francisco Agarez
N.º de páginas: 301
Editora: D. Quixote
Edição: Outubro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3247)
Philip Roth é um escritor marcante e de leitura obrigatória. Possuidor de uma verve irónica, bem-humorada e, simultaneamente, devastadora e comovente, impõe-nos uma narrativa mordaz e reveladora de um erotismo “devasso”.
Philip Roth cria em David Kepesh uma personagem hedónica e cínica, numa luta constante com os seus instintos mais primitivos. Mas não temam, não é esta a imagem que prevalece de Kepesh. A sua história não se cinge a paixões e sexo, a partir de um dado momento, inflecte numa reflexão e num questionamento sobre a sua vida, sobre as suas frustrações pessoais e relacionamentos inconcludentes e circunstanciais que o levam ao cadeirão do psicólogo.”Todas as noites dou voltas na cama com o pesadelo de não amar ninguém. (,,,) Quanto tempo faltará até me fartar de tanta inocência- até que a doce sensaboria de uma vida com Claire comece a enjoar, a saturar, e eu volte a sair por aí, chorando aquilo que perdi e procurando o meu caminho?”
Como já referi, não é um livro só sobre erotismo, é sobretudo, e na minha opinião, um livro maravilhoso sobre literatura. Kepesh, extraordinário professor universitário, especialista em Tchekov e Kafk, faz incursões literárias magníficas e relaciona o seu hedonismo problemático com algumas histórias destes autores.
É nesta relação que reside a mestria e a genialidade de Roth. Na narrativa, ele atribui a Kepesh o papel de doutorando que tem de redigir uma tese “sobre a desilusão romântica” e assim, aproveita certas personagens da literatura para justificar o seu comportamento movido pelo desejo.
Outro exemplo demonstrativo da sagacidade do autor é a redacção da comunicação que Kepesh prepara para o seu primeiro dia de aulas. Em vez de abordar as ideias gerais do curso de Literatura 341, propõe aos alunos falar de si, de factos íntimos, da sua história erótica, de “confessar o inconfessável – a história do desejo do professor”. Kepesh refere ainda na sua comunicação que adora ensinar literatura e que “Raramente me sinto tão bem como quando estou aqui com as minhas páginas de apontamentos, e com os meus textos anotados, e com pessoas como vocês. Para mim não há nada na vida que se compare com uma sala de aula. (…) E fora daqui não é provável que encontrem facilmente oportunidades de falar sem constrangimento sobre aquilo que foi para homens tão sintonizados com os combates da vida como foram Tolstoi, Mann e Flaubert. Talvez não saibam como é comovente ouvir-vos falar com convicção e sinceridade sobre solidão, doença, perda, sofrimento, desengano, esperança, paixão, amor, terror, corrupção, calamidade e morte…” (p. 215).
Fica clara a relação do comportamento do protagonista com as suas personagens literárias que tanto admira.
É um livro apaixonante. Recomendo.
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