Autor: Abdulrazak Gurnah
Título: Junto ao Mar
Tradutora: Eugénia Antunes
N.º de páginas: 293
Editora: Cavalo de Ferro
Edição: Setembro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3423)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐
Junto ao Mar é o primeiro livro que leio de Abdulrazak Gurnah. Versa sobre questões actuais como a imigração de refugiados. A sua escrita, de teor auto-biográfica, dá voz às pessoas, foca-se na identidade e no destino de cada uma. Saleh Omar, o protagonista, chega a Inglaterra como refugiado oriundo da ilha de Zanzibar e ao requerer asilo político tem de enfrentar várias barreiras: a da língua (já que afirma não falar inglês), a do controlo de passaportes, a dos serviços sociais e a incompreensão e a rejeição de muitos.
“As pessoas como o senhor vêm para aqui em catadupa sem a mínia noção dos danos que provocam. Não pertencem aqui, não valorizam as mesmas coisas que nós, não pagaram por elas ao longo de gerações, e nós não vos queremos aqui.” (p. 22)
É um romance magnífico que aborda a problemática da emigração, como já referi, mas é também, e sobretudo, a revisitação a um passado histórico doloroso, a uma história de ajuste de contas entre duas famílias, a histórias “que estão sempre a escorregar-nos por entre os dedos, a mudar de forma, a contorcer-se para se escapulirem.” (p. 157).
À medida que o protagonista narra a sua vida, assimilamos a sua viagem interior de busca de identidade, a sua reflexão sobre valores como a ambição, a traição, a dignidade, a honra, o perdão e a amizade.
Numa clara alusão ao Bartleby, de Melville, o protagonista refere em várias situações e com interlocutores diferentes “Preferia não o fazer”, passando ao leitor a ideia de que pretende expiar os seus erros, redimir-se de todo o seu passado.
Recomendo. Eu, prometo ler outros do autor já que as suas temáticas me interessam.
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