Autor: António Lobo Antunes
Título: O Tamanho Do Mundo
N.º de páginas: 284
Editora: D. Quixote
Edição: Outubro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3405)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐
“A solidão mede-se pelos estalos dos móveis à noite quando a poltrona em que me sento de súbito desconfortável, enorme, e os objectos aumentam nos naperons, inclinados para mim a escutarem (…)” é este o início do livro de ALA. Metáfora inquietante, porém objectiva, que acompanha de forma repetida (como um eco) o leitor ao longo da narrativa.
A história é narrada a quatro vozes, contudo é a voz da solidão que se impõe. O protagonista, homem doente de 77 anos vive os dias mergulhado nas suas memórias que começam a esvanecer-se. “porque a vida, já se sabe é madrasta, que coisa estranha a memória, ela de há tempos para cá ia jurar que a faltar-me, tantos espaços, de repente brancos, nada de modo que o passado se desequilibra” (p. 16).
A solidão é enorme e devastadora; a solidão é assombrada pela “dor escondida”, é medida pelos “estalos dos móveis” e pelo “pânico das ambulâncias na rua”; a solidão é “um cano que vibra no interior da parede”.
É notável a forma como nos apropriamos da narrativa e nos deixamos envolver pelos sons que medem tamanha solidão. O paradoxo só torna mais verosímil o silêncio, o vazio da casa, do quarto do hospital, do mundo.
ALA já nos habituou a uma prosa complexa escrita ao ritmo de ideias que se misturam e confundem, de um pensamento que surge, de uma pausa… Neste livro a complexidade revela-se no pendor repetitivo, exaustivo das frases, das ideias que nos enclausuram na vida, nas vidas das personagens. Não há fuga possível. E o tamanho do mundo torna-se cada vez mais pequeno, mais fechado, mais silencioso.
Recomendo a leitura.
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