23 abril, 2023

𝑽𝒐𝒍𝒇𝒓â𝒎𝒊𝒐, de Aquilino Ribeiro

 


Autor: Aquilino Ribeiro
Título: Volfrâmio
N.º de páginas: 310
Editora: Bertrand Editores
Edição: Setembro 2015
Classificação: Romance histórico
N.º de Registo: (3446)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Volfrâmio tem como tema a exploração das minas durante a II Guerra Mundial e o colaboracionismo dos portugueses no fornecimento de volfrâmio às fábricas de armamento quer dos alemães quer dos ingleses. Este aspecto retrata a posição ambígua dos governantes portugueses, na época, perante a Guerra. Mas é sobretudo uma caricatura do Portugal rural da Beira, das terras paupérrimas do interior e dos comportamentos bacocos, extravagantes e vis da população devido ao enriquecimento fácil e inesperado provocado pela extração de volfrâmio. Este período de abundância revelar-se-á efémero, porém tempo suficiente para as gentes da terra entrarem em loucura, esbanjarem dinheiro em despesas vãs, entrarem em jogos de enganos, roubarem e até cometerem crimes. Tudo em nome do dinheiro que obtêm na venda do mineral.

Aquilino Ribeiro evidencia um conhecimento apurado e vasto dos lugares e das pessoas e revela ser um observador atento já que na sua narrativa descreve minuciosamente formas de estar e de sentir: a corrida desenfreada ao volfrâmio; a luta infernal pela sua exploração; a vida miserável das gentes que tentam subsistir num território pobre e com um clima agreste; as mudanças económicas e sociais que advieram das novas circunstâncias. Fica claro o crescendo das consequências negativas à medida que a utopia “do ouro negro” se vai diluindo. A alteração de valores, de atitudes, de falta de ética põe a nu a exploração dos trabalhadores, as condições de trabalho, a corrupção aliada ao contrabando, e o fosso cada vez maior entre ricos e explorados. Aquilino nos seus romances oferece-nos uma diversidade lexical muito própria da sua Beira. A sua escrita é erudita e elegante, com toques de ironia, rica em regionalismos, muito apoiada nas raízes culturais e linguísticas do povo. Algum vocabulário é considerado difícil porque em desuso, mas facilmente compreensível em contexto.

Gostei de (re)descobrir a prosa de Aquilino. Há muito que o não lia. Prometo dar continuidade. É necessário promover os bons escritores, os clássicos da nossa literatura. E se “ Aquilino possuía como nenhum outro, a sabedoria da língua e dos segredos gramaticais e estilísticos: metáforas, sinédoques, parábolas, fábulas, analogias, um arsenal de conhecimentos que aplicava nos livros com alegre desenvoltura.” como refere Baptista-Bastos no seu prefácio, então Aquilino não pode continuar esquecido nas estantes.




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