27 março, 2023

𝑫𝒖𝒂𝒔 𝑺𝒐𝒍𝒊𝒅õ𝒆𝒔. 𝑶 𝑹𝒐𝒎𝒂𝒏𝒄𝒆 𝒏𝒂 𝑨𝒎é𝒓𝒊𝒄𝒂 𝑳𝒂𝒕𝒊𝒏𝒂, de Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa

 


Autores: Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa
Título: Duas Solidões. O Romance na América Latina
Tradutor: J. Teixeira de Aguilar
N.º de páginas: 175
Editora: D. Quixote
Edição: Outubro 2021
Classificação: Conversa/testemunhos
N.º de Registo: (3371)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Duas Solidões. O Romance na América Latina é a transcrição do interessantíssimo embate comunicacional de dois vultos da literatura - Gabriel García Márquez (Gabo) e Vargas Llosa, ocorrido em setembro de 1967, em Lima, no Peru. Os dois escritores, já nomes promissores da literatura latino-americana, estavam em início de carreira e tinha acabado de sair o famosíssimo Cem anos de solidão.
Trata-se de uma conversa amena, elegante, esclarecedora e emocionante.
Fala-se da utilidade dos escritores, “Para que achas que serves tu como escritor?” (p. 41) perguntou Llosa logo no início da conversa; dos métodos de escrita; de convicções; do boom do romance latino-americano; do “boom de leitores”; de leituras, de influências; das próprias obras e daquilo a que se viria a chamar mais tarde de “realismo mágico”.

Para além desta conversa entre os dois Nobelizados (duas partes), a edição conta com três textos introdutórios e uma Nota preliminar. No final, conta ainda com quatro testemunhos, duas entrevistas e algumas fotografias.

Num dos textos introdutórios, Juan Gabriel Vásquez descreve desta forma brilhante os dois protagonistas: “Aqui está esse Vargas Llosa: o romancista-crítico, senhor de uma consciência exacerbada do seu ofício, sempre com o bisturi na mão. Ao lado, García Márquez faz grandes esforços para defender a sua imagem de narrador instintivo, quase selvagem, alérgico à teoria e mau explicador de si mesmo ou dos seus livros. (…) Ora bem, o diálogo é também uma encenação de duas maneiras diferentes de entender o ofício de romancista; (…) Por um lado, a generosidade intelectual de Vargas Llosa (…) e, por outro, a timidez de García Márquez” (pp. 20-21)

Penso que este livro destaca a importância da conversa quer para os leitores quer para futuros escritores e é revelador da genialidade dos seus autores, da amizade e do respeito entre ambos. É bonito perceber que entre os dois há uma enorme cumplicidade apesar das divergências existentes, como é natural.

Termino com uma resposta de Gabo a Llosa que se tornou numa das suas máximas principais: “Escrevo para que os meus amigos gostem mais de mim.”



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