28 março, 2023

𝑶𝒖𝒕𝒐𝒏𝒐, de Ali Smith


Autora: Ali Smith
Título: Outono
Tradutor: Manuel Alberto Vieira
N.º de páginas: 215
Editora: Elsinore
Edição (2.ª): Novembro 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3328



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Outono é o primeiro livro de uma tetralogia. O contexto da narrativa situa-se no pós-Brexit e a autora apresenta algumas reflexões sobre esse tempo. É um tempo que conduz à indiferença, à ansiedade, ao descontentamento. É um tempo de futuro incerto.
“Foi o pior dos tempos, foi o pior dos tempos. De novo. É esse o problema das coisas. Desfazem-se, sempre se desfizeram, sempre se desfarão, está-lhes na natureza.” (p. 15)
A história revela-nos duas personagens maravilhosas, Elisabeth Demand e Daniel Glück, dois vizinhos com setenta anos de diferença. Ela na casa dos trinta e ele já centenário vão construindo uma amizade aparentemente improvável e nem sempre compreendida pela “ultrassensível e ultrairritante” mãe de Elisabeth.
“Ele é meu amigo, disse Elisabeth.
Tem oitenta e cinco anos, disse a mãe. Como é que um velho de oitenta e cinco anos pode ser teu amigo? Porque é que não tens amigos normais como as pessoas normais de treze anos?
Isso depende da tua definição de normal, disse Elisabeth. Que será diferente da minha definição de normal. Porque todos vivemos na relatividade e a minha, no momento presente, não é, e suspeito que nunca será, igual à tua.” (pp.69-70)

A narrativa evolui sem uma linha temporal definida. Entre “episódios de outros tempos” surgem memórias, recordações, sonhos, que assim oscilam entre o passado, vivido por ambos desde a infância de Elisabeth, e o presente em que Daniel se encontra hospitalizado num “período de sono prolongado”.

Gostei sobretudo da escrita poética e da subtil transição entre o passado e o presente. Os factos reais, os imaginados e as memórias entrelaçam-se harmoniosamente, atribuindo apenas relevância àquilo que importa mesmo, isto é, à vida, à relação afectuosa entre pessoas que se estimam, à partilha de conhecimentos e de ensinamentos:
“Devemos estar sempre a ler alguma coisa, disse ele. Mesmo que não estejamos a ler fisicamente. Caso contrário, como seremos nós capazes de ler o mundo?” (p. 62)

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