08 novembro, 2022

𝑴𝒂𝒓𝒈𝒂𝒓𝒊𝒕𝒂 𝒆 𝒐 𝑴𝒆𝒔𝒕𝒓𝒆, de Mikhail Bulgákov

 


Autor: Mikhail Bulgákov
Título: Margarita e o Mestre
Tradutor: António Pescada
N.º de páginas: 448
Editora: Colecção Mil Folhas
Edição: Agosto 2002
Classificação: Romance
N.º de Registo: (1363)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Ao pesquisar um pouco sobre a vida e obra do autor para uma melhor compreensão do livro, ficou claro que Mikhail Bulgakov não era apoiante do regime, tornando-se mesmo um autor polémico e muito crítico. Sendo vítima de censura, Margarita e o Mestre levou dez anos a ser escrito porque o autor sabia que não seria aceite no regime estalinista.
Só vinte e sete anos depois da sua morte, o livro foi publicado e tornou-se num fenómeno literário. Há no livro uma referência clara a este aspecto o que confere à narrativa um caracter autobiográfico. O Mestre da narrativa é escritor e Margarita é a sua amada e principal mentora. “Ela tem uma opinião demasiado elevada sobre o romance que eu escrevi. (…) deixe-me vê-lo. Woland estendeu a mão. (…) Infelizmente, isso não me é possível – respondeu o Mestre – porque o queimei no fogão.
- Desculpe, mas não acredito – disse Woland – isso não pode ser. Os manuscritos não ardem. (pp. 322 -323)

Temos assim, um livro desconcertante, divertido, empolgante e satírico. As duas partes que o compõem transportam-nos para universos de puro divertimento, mas também de profunda reflexão. O sobrenatural entrelaça-se magistralmente à crítica social e política do regime ditatorial de Estaline.
O Bem e o Mal, simbolicamente referidos na epígrafe, extraída da famosa obra Fausto, de Goethe, dão o mote à narrativa e preparam o leitor para a grande metáfora da vida e da natureza humana com um toque de cariz religioso.
“Quem és tu, então?”
“Parte daquela força que eternamente deseja o mal e eternamente cria o bem.”

Para além da dualidade Bem e Mal, há outras que se interligam como o amor e o ódio, a honestidade e a mentira e que condimentam todo o enredo e o tornam numa obra genial.
Partindo de uma trama realista e representativa de um país em plena ditadura, Bulgakov cria um enredo louco e absurdo, com personagens fabulosas e diabólicas que coloca numa Moscovo vazia de vontades e opiniões próprias, oprimida e devastada.

Não pensem que a história é taciturna, bem pelo contrário, e aí reside o encanto do livro, é que para retratar uma época sombria, o autor revela uma imaginação espantosa e com recurso à alegoria cria cenas divertidas, inventa diálogos com um forte sentido de humor, por vezes negro, estabelece pactos “que só o diabo sabe”, representa uma sociedade em crise de valores onde o mal predominava. 

Margarita e o Mestre é indiscutivelmente uma obra-prima da literatura universal. Na minha opinião, faz jus à literatura russa do século XIX que tanto aprecio e que leio sempre com enorme prazer.


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