25 agosto, 2022

𝑼𝒏𝒆 𝒂𝒏𝒏é𝒆 𝒄𝒉𝒆𝒛 𝒍𝒆𝒔 𝑭𝒓𝒂𝒏ç𝒂𝒊𝒔, de Fouad Laroui

 



Autor: Fouad Laroui
Título: Une année chez les Français
N.º de páginas:287
Editora: Julliard  (Pocket)
Edição: Agosto 2011
Classificação: Romance
N.º de Registo: (Empréstimo)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Une année chez les Français narra a história de Mehdi Khatib, em grande parte inspirada na adolescência do autor.
Mehdi é uma criança que vive em Beni-Mellal, uma pequena vila isolada de Marrocos. Apesar de viver com dificuldades, Mehdi é inteligente e é um apaixonado pela leitura, facto que lhe proporcionará uma bolsa de estudo, que o levará a frequentar, como interno, o elitista e prestigiado liceu francês (Lycée Lyautey) em Casablanca. O liceu está reservado aos filhos de altos funcionários e famílias influentes do regime marroquino, bem como aos filhos de franceses e estrangeiros com cargos importantes em Marrocos.

No liceu, Mehdi vai sofrer várias vicissitudes quer ao nível da comunicação quer ao nível das normas de convivialidade quer ainda ao nível de comportamentos para com os colegas, professores e assistentes. O primeiro embate vai ser conhecer as normas do liceu e os hábitos dos seus frequentadores. Oriundo de um meio social pobre, não tem acesso ao luxo e aos hábitos culturais, linguísticos e sociais dos restantes colegas. Apesar das suas origens, por exemplo, em 1969, ano em que decorre a acção, desconhece a existência da televisão e conhece muito mal o uso do telefone, Mehdi acaba por se tornar um dos melhores alunos.


A narrativa constrói-se alicerçada nas diferenças culturais e linguísticas. Mehdi que na escola apenas falava francês e tudo o que lia era nesta língua, sabe de cor frases/excertos de livros clássicos como La Fontaine, La Comtesse de Ségur, Jules Verne, … (o que fará os jovens franceses corarem de vergonha) sem contudo saber o significado de uma grande parte das palavras, mas não conhece expressões do dia-a-dia, não conhece nada de calão (muito usado pelos colegas e pelos assistentes) e também não domina o árabe.
É então nesta conjectura que alguns episódios hilariantes se vão desenrolar. O nosso pequeno Mehdi quando se encontra numa situação delicada, e foram imensas, cria um mundo de fantasia baseado nas obras lidas, tenta desenvencilhar-se o melhor que pode e, muitas vezes, adia a resposta para não revelar a verdadeira origem da sua família.

Esta maneira de ser engraçado, aplicado (sempre a ler e a estudar) e espontâneo vai causar a admiração e a aceitação de todos ao ponto de ser convidado a passar os fins-de-semana em casa de um colega francês, Denis Berger. É um mundo completamente diferente que vai descobrir.

O choque cultural presente na obra, está muitíssimo bem descrito com muito sentido de humor, muita ironia e delicadeza. As personagens estão fabulosamente caracterizadas e os episódios gravitam à volta de mal-entendidos provocados pela incompreensão linguística ou pelo desconhecimento de alguns hábitos comportamentais.

Não conhecendo o autor, é a primeira obra que leio, fiquei fascinada pela sua escrita e pela paixão que demonstra ter pela língua e pela literatura (há várias referências literárias). Fiquei com curiosidade e vontade de ler outras obras do autor.
Recomendo a leitura, se possível em francês, desta história divertida, apaixonante e ternurenta. Receio que a tradução perca o encanto e o efeito causados pelos jogos de palavras.





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