17 agosto, 2022

𝑶 𝑷𝒂𝒑𝒂𝒈𝒂𝒊𝒐 𝒅𝒆 𝑭𝒍𝒂𝒖𝒃𝒆𝒓𝒕, de Julian Barnes

 


Autor: Julian Barnes
Título: O Papagaio de Flaubert
Tradutora: Ana Maria Amador
N.º de páginas:244
Editora: Quetzal
Edição (2.ª): Novembro 2019
Classificação: Biografia Romanceada
N.º de Registo: (3217)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Julian Barnes propõe-nos uma biografia (?) desconcertante, porque diferente, de Gustave Flaubert. Não há uma estrutura narrativa claramente definida, vamos percorrendo as páginas e vamo-nos deslumbrando com a facilidade (aparente) como o autor expõe a sua tese, a sua reflexão, a sua teoria, as suas críticas e como dialoga com o leitor e o envolve nas suas dúvidas e certezas.
 
É um livro extraordinário, deslumbrante porque nos oferece histórias aparentemente sem conexão, por vezes, incoerentes, umas verdadeiras outras falsas, entradas em dicionários e em diários íntimos, cronologias, listas, bestiários, apócrifos, citações, provas escritas. Questionamo-nos, constantemente, se é um romance, uma biografia, uma autobiografia, um ensaio, já que temos de tudo um pouco escrito com um enorme sentido de humor e muita ironia. Barnes joga com as ideias e com as palavras para seduzir o leitor e o envolver na sua narrativa.

Para nos falar do autor de Madame Bovary, mas também das coincidências/ironias da vida, de livros e de amor, Barnes cria um narrador - Geoffrey Braithwaite - inglês, médico, reformado, viúvo, de 60 anos que atravessa o canal da Mancha para ir até Ruão (Rouen), em França com o propósito de conhecer o verdadeiro (há duas versões) papagaio embalsamado (Lulu) que serviu de modelo a Flaubert aquando da escrita de um conto,“Un coeur simple” (1877).

O narrador apresenta-nos a sua vida para nela descobrirmos a de Flaubert. Subtilmente, o médico saltita da realidade à ficção, da sua própria vida à vida de Flaubert, do seu amor pela mulher Ellen, que morreu recentemente, ao amor de Flaubert por Louise Colet.
“Estou só a ganhar coragem para lhes [aos leitores] contar… o quê? Sobre quem? Dentro de mim lutam três histórias. Uma sobre Flaubert, uma sobre Ellen, outra sobre mim próprio.” (p. 108)

Assim, de capítulo em capítulo descobrimos alguns aspectos da vida de Flaubert, tais como as suas obras, viagens, amizades, amantes, familiares (mãe), sucessos e polémicas, medos e vaidades. Fica ainda claro que Flaubert é dado a fortes paixões, porém, sempre insatisfeito, torna-se incapaz de amar e de ser feliz, tal como Emma, a protagonista de Madame Bovary, a sua obra-prima.

E o papagaio? Não falarei dele… convido-vos a descobrir a narração de Geoffrey Braithwaite, que ora fala como médico, ora como biógrafo, ora como viúvo. Será, sem dúvida, para os amantes da literatura, uma leitura encantadora e sedutora.

Eu, descobri que Julian Barnes me fascinou e que quero ler mais livros dele; confirmei que Gustave Flaubert é um escritor talentoso e genial “ Flaubert é diferente. Acreditava no estilo mais do que ninguém. Trabalhava afincadamente pela beleza, pela sonoridade, pela exatidão; pela perfeição.” (p. 111).
Quando isto acontece, fico feliz e concluo que a leitura/a literatura cumpriu a sua função.

 


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