23 agosto, 2022

𝑨𝒔 𝑽𝒊𝒅𝒂𝒔 𝒅𝒐𝒔 𝑶𝒖𝒕𝒓𝒐𝒔, de Pedro Mexia

 



Autor: Pedro Mexia
Título: As Vidas dos Outros
N.º de páginas:206
Editora: Tinta da China
Edição: Outubro 2010
Classificação: Crónicas
N.º de Registo: (3325)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐

Este livro reúne 58 crónicas publicadas desde 2007 a 2010 no jornal o Público. São textos curtos que se lêem muito bem e que revelam a erudição, a inteligência, as referências e talvez as preferências do autor. São pequenas conversas delicadas e cultas que o autor partilha com o leitor, como refere Rui Ramos no prefácio “ (…) Ao contrário do especialista, o erudito [Pedro Mexia] não nos quer convencer: quer passar o tempo connosco, discorrer, perder-se, deambular, não ir a lado nenhum, como em qualquer conversa.” (p. 12)

Nestas crónicas são abordadas matérias muito diversas. Pedro Mexia escreve sobre a vida de escritores, actores/actrizes, cineastas, músicos, pintores, fotógrafos, sobre arte, livros, religião, filosofia e outras áreas e saberes. Não há um fio condutor, nem uma sequência lógica, “Os labirintos só têm graça quando nos perdemos neles.” (p. 11). Há uma escolha aleatória que certamente responde aos interesses do autor, ou quiçá a algum acontecimento ocorrido na época, aquando da escrita da crónica.

Ao iniciar com Epicuro e ao discorrer sobre a felicidade “(…) estão na origem de uma vida feliz, mas o raciocínio sóbrio, que procura as causas de toda a escolha e toda a rejeição e afasta as opiniões através das quais a maior perturbação se apodera da alma.” (p. 19), é, na minha modesta opinião, uma escolha feliz (ressalvo o pleonasmo) na medida em que introduz o pensamento e a índole do autor na escolha dos assuntos (das vidas) que apresenta. Percebe-se que há conhecimento (muito) e prazer na escrita dos seus textos. Diz apenas o essencial, mas o suficiente para captarmos a sua preferência, a sua escolha.

O interessante é que ao lermos estes textos, para além de aprendermos sobre o visado ou sobre a matéria em foco (e confesso que aprendi muito), vamos também descobrindo um pouco da vida do próprio autor. Pelo menos é a minha percepção desta leitura.

Para concluir, transcrevo um excerto da crónica “Alteza Sereníssima, sobre Grace Kelly. É uma das minhas preferidas e também acho que sua alteza sereníssima será uma das figuras preferidas do autor na medida em que a sua maneira de ser (subtileza) se adequa à premissa da actriz/princesa.
“ Grace Kelly será sempre a mulher ideal dos homens que apreciam a subtileza. «Não gosto de nada que seja óbvio, tanto no sexo, como na maquilhagem ou na roupa. Gosto mais de coisas subtis, que deixam espaço à imaginação», disse Grace, e é todo um programa. (…) A beleza é obviamente um dom da natureza, mas o gosto é uma conquista cultural.” (pp.156-159).


Sem comentários:

Enviar um comentário