25 abril, 2022

𝑨𝒃𝒓𝒂ç𝒐, de José Luís Peixoto

 



Autor: José Luís Peixoto
Título: Abraço
N.º de páginas: 655
Editora: Quetzal
Edição: Outubro 2011
Classificação: Crónicas
N.º de Registo: (2857)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Abraço é uma colectânea de cento e sessenta e duas crónicas escritas ao longo de dez anos e que marcam três fases distintas: os seis, os catorze e os trinta e seis anos da vida do autor. A sequência das crónicas que integram este livro foi sublimemente organizada. Tudo faz sentido. Assumimos o livro como um todo e não como uma colectânea de textos que foram publicados de forma avulsa em jornais e revistas.

Os textos apresentam uma escrita intimista, corajosa e aparentemente simples, já que o autor parte do banal, do quotidiano, por vezes, de uma palavra, de uma ideia, de uma emoção para olhar para dentro de si, para expor os seus segredos, as suas vivências pessoais e familiares, sobretudo com os filhos, os pais e a irmã, as suas viagens, o seu processo de criação, as suas leituras, os seus pensamentos, as suas vitórias. Falam da sua infância e adolescência no Alentejo; falam de livros, livrarias, escritores, de filmes e cinema, de objectos banais; falam de amor, da vida, da sua vida de forma desassombrada, intimista, sem filtros, e cativante.

À conta de tudo isto, há todo um processamento da memória, mas há também o registo presente, simultâneo, do vivido e do escrito e há ainda a interpelação directa ao leitor que, em muitos textos, participa quase espontaneamente como se ele próprio abraçasse a escrita. Interessante como a narração, a descrição de um facto banal se transforma em literatura, em prosa poética e o leitor fica suspenso nas palavras, nas frases, na beleza da história.

Este livro é um compêndio de abraços à vida, às palavras lidas e escritas, aos leitores, aos lugares.
“Pureza, aceita esta palavra nos teus gestos, em cada uma das tuas palavras, e, aos poucos, chegará ou regressará aos teus pensamentos. (…) Não deixes que te armadilhem os cálculos e labirintos. São demasiado fáceis de construir. Quando mal entendidos, são máquinas de guerra. E, no entanto, não há palavras más. Perante a pureza, deus, só há palavras boas. (…) Pureza, repete. Tu tens direito à felicidade.
Agora, vai. Tens a vida à espera de abraçar-te.” (pp. 653 a 655)




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