13 março, 2022

𝑴𝒂𝒅𝒂𝒍𝒆𝒏𝒂, de Isabel Rio Novo

 

Autora: Isabel Rio Novo
Título: Madalena
N.º de páginas: 199
Editora: D. Quixote
Edição: Fevereiro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3346)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Nunca saio defraudada das leituras que faço dos livros de Isabel Rio Novo. Neste momento, considero-a uma das melhores escritoras portuguesas na nossa produção literária contemporânea.
O livro baseia-se em duas histórias, a da narradora e a da sua bisavó Madalena, assente em tempos distintos: o presente, o passado (1920) e o sonhado, mas que acabam por se interligar e dar sentido à narrativa.
Nesta narrativa há registos autobiográficos soberbamente mesclados à escrita ficcionada. A professora de história doente oncológica vai ocupar o seu tempo, “Tempo para esperar. E até lá, até esse desfecho qualquer, tempo para cumprir.” (p. 55) a ler as cartas dos seus antepassados e a descobrir a “viagem que com elas começava.” (p. 27).
Logo no início, somos informados da doença que afecta a protagonista, receamos pelo teor da narrativa, mas rapidamente percebemos que a urgência da protagonista não é a das “decisões expeditas”, mas sim a de descobrir “novas dimensões do tempo” e por isso opta pela arrumação de coisas velhas herdadas, partindo à descoberta de cartas, livros, fotografias…
Será então o tempo, a passagem do tempo, o fio condutor desta belíssima narrativa. É de vida e de morte, de bons e maus momentos, de sonhos, de memórias, de experiências vividas, de vivências sofridas, de novas dimensões do tempo, de “recorte de momentos, uma coleção de retalhos cheia de emendas e intervalos.” (p. 25)
É na intersecção dos vários tempos que considero que a autora brilhou. A narrativa balança harmoniosamente entre a história da narradora e a da Madalena Brízida, a bisavó, conduzindo o leitor nos meandros da doença e da crise matrimonial, do amor e do desamor, dos amores recalcados. A narrativa é construída no paralelismo destas duas personagens femininas e no final tudo faz sentido.
Gostaria ainda de focar dois aspectos que considerei interessantes. O primeiro é a referência, no enredo, de dois títulos de obras da autora e a segunda é a excelente selecção da obra “Les feuilles mortes”, da pintora surrealista Remédios Varo para a capa. Pormenores que evidenciam a preocupação com os detalhes e com a concepção de uma obra de arte que afinal o livro também é.



Sem comentários:

Enviar um comentário